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Inflação dos EUA decepciona (tal qual a do Brasil). Bolsas fecham em leve queda

CPI e IPCA vêm acima do esperado. Ibovespa fica em -0,15%; S&P 500, -0,07%; MRVE3 cai mais de 10%.

Por Bruno Carbinatto, Camila Barros, Sofia Kercher e Alexandre Versignassi
Atualizado em 11 jan 2024, 18h38 - Publicado em 11 jan 2024, 18h34
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 (Cristielle Luise/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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A divulgação do CPI de hoje, ansiosamente aguardada pelos investidores, jogou água no chopp de Wall Street. O índice de inflação americano acelerou em dezembro, tanto em relação a novembro quanto ao mesmo período de 2022 – e veio maior do que o previsto pelo mercado.

O CPI subiu 0,3% na comparação mensal, acima dos 0,1% de novembro e dos 0,2% do consenso dos analistas. Na comparação anual, foi a 3,4%, o maior nível em três meses, revelando que, ao menos em partes, o aumento dos preços ainda resiste teimosamente à política de juros do Fed. 

A meta de inflação do Fed, vale lembrar, é de 2% (apesar de considerar o núcleo do PCE, um outro índice de inflação, mas nem por isso o CPI deixa de servir como um ótimo termômetro).

A decepção ficou concentrada na inflação acima do previsto no setor de serviços, que há tempos é a dor de cabeça principal do Fed. Excluindo os custos com energia (que são voláteis), o aumento dos preços nesse segmento ficou em 5,3% nos últimos 12 meses, puxado, principalmente, pelos custos de moradia e de seguros. 

O dado traz um ponto contrário à narrativa dominante em Wall Street. Há meses, investidores compraram a ideia de que a inflação já não é um bicho papão e que o Fed começará a reduzir os juros, atualmente em 5,5%, em breve. O próprio banco central americano confirma que a taxa vai cair em 2024 – a grande questão é o timing e o ritmo desse processo.

Há uma reunião do Fomc, o comitê de política monetária do Fed, em janeiro. É consenso geral que os juros deverão permanecer inalterados nela. Depois, os dirigentes voltam a se reunir em março. É aqui a questão central: Wall Street aposta que pode rolar o primeiro corte nessa ocasião.

O banco central, porém, segue firme com suas sinalizações mais cautelosas ao mercado. Hoje mesmo, após a divulgação do  CPI indigesto, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, disse que março é provavelmente “cedo demais” para iniciar o processo de redução dos juros. 

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“Acho que o CPI de dezembro mostra que há mais trabalho a fazer, e esse trabalho exigirá uma política monetária restritiva”, disse a dirigente, que terá voto no Fomc neste ano, em entrevista à Bloomberg TV. A fala ilustra bem como o dado divulgado hoje complica o caminho do Fed na sua luta contra a inflação.

E o que o mercado fez? Tapou os ouvidos e fingiu que nada aconteceu. No FedWatch, a ferramenta do CME Group que acompanha as previsões dos investidores para os próximos passos do BC americano, dois terços dos palpites ainda apostam numa redução de 0,25 pontos percentuais na reunião de março.

Nas bolsas, a reação inicial à surpresa negativa foi visível. Mas, ao longo do dia, o azedume diminuiu e elas fecharam de lado: S&P 500 -0,07%, Nasdaq estável. O Ibovespa também terminou perto do zero a zero: 0,15%, aos 130.648 pontos. 

IPCA

Também teve divulgação de inflação por aqui. Pela primeira vez em dois anos, o IPCA ficou dentro da meta do BC. Em dezembro, o índice de preços subiu 0,56%, fechando 2023 a 4,62%

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Para o ano passado, o objetivo da instituição era conduzir a inflação aos 3,25%, com uma margem de tolerância de 1,50% para cima ou para baixo – entre 1,75% e 4,75%. 

Só que a conquista não animou o mercado. Pelo seguinte: a alta mensal (0,56%) veio acima da mediana de projeções dos analistas, que falavam em 0,49%. O acumulado de 2023 também fechou maior do que o esperado – no último Boletim Focus do ano, a projeção era 4,46%. 

O resultado esfria a possibilidade de que o Copom intensifique seu movimento de cortes de juros. A Faria Lima vinha apostando em reduções mais robustas, de 0,75pp, nas próximas reuniões – contra o ritmo atual de 0,50pp. 

Também preocupa o futuro da inflação de 2024 em diante, já que os números moderados do ano passado foram apoiados, em especial, no grupo de alimentos: encarecimento de modestos 1,03%, contra alta de 11,64% em 2022. 

Uma desaceleração impulsionada principalmente pelo aumento da produção de algumas classes de alimentos, como carnes e leite. Com mais oferta, os preços tendem a cair (ou, neste caso, não subir tanto assim). Só que não dá para garantir a mesma sorte para este ano. 

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Atualmente, a mediana de projeções do Focus fala em IPCA a 3,90% para o fim de 2024. A ver. 

ETF de Bitcoin 

Com a aprovação dos ETFs de Bitcoin pela SEC (a CVM americana), na noite de ontem, o Bitcoin subiu, mas pouco (ainda mais para um ativo mais volátil que querosene de aviação): 1% nas últimas 24 horas. 

O Brasil tem diversos ETFs de Bitcoin (HASH11, BITI11 etc.). Mas o nosso mercado é ínfimo. O patrimônio somado dos 13 fundos de cripto daqui é de apenas R$ 2,5 bilhões. 

Já a abertura desse tipo de investimento nos EUA é algo que pertence a outra ordem de grandeza, pois tem o potencial de amealhar dezenas, ou centenas de bilhões de dólares. Isso aconteceria porque, hoje, um cidadão americano que queira comprar Bitcoin precisa comprar numa Exchange dedicada. É algo extremamente simples. Mas não tão simples quanto depositar dinheiro num fundo (o ETF) que varia de acordo com a cotação da cripto.       

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A expectativa, então, era a seguinte: com a eventual demanda maior desses fundos por cripto, o Bitcoin passaria a subir. Mas, aparentemente, boa parte desse movimento já estava precificado pela alta de 155% no ano passado. Vejamos o que o futuro reserva.  

MRVE3: -11,78%

Nada como cochichos do mercado para mover uma ação. Foi o caso da MRV: pelo segundo dia consecutivo, a construtora protagonizou a maior queda da bolsa. Inclusive, dos oito pregões que aconteceram este ano, MRVE3 caiu em seis deles — com perdas que somam quase 25%

O que chamou atenção foi o volume financeiro do papel. No início da tarde, ele estava em R$ 380 milhões (6x mais que sua média diária, de R$ 60 milhões).

A MRV divulgará seu guidance — informações que as empresas de capital aberto dão ao mercado para indicar o que esperam do futuro — no mês que vem. Hoje, circularam rumores de que vai rolar uma revisão para baixo na sua previsão de lucro líquido. 

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O movimento de queda também é uma antecipação: pós-pregão, a companhia vai compartilhar sua prévia operacional. Pelo andar da carruagem, o mercado não espera resultados promissores.

Em contexto mais amplo, há também a Medida Provisória da reoneração da folha de pagamentos. A novela é a seguinte: a norma padrão prevê que as companhias paguem 20% de alíquota sobre a folha de salários dos funcionários. Com a desoneração, que existe desde 2011, empresas de 17 setores — construtoras inclusas — pagam alíquotas de 1% a 4,5% sobre sua receita bruta. 

O Congresso passou por cima do veto de Lula e aprovou a continuação da medida até 2027. Para diminuir o rombo nas contas públicas, Haddad decidiu apresentar uma Medida Provisória que prevê a reoneração gradual da folha. 

A avaliação de analistas é que empresas que atuam no Minha Casa Minha Vida (como a MRV) vão sofrer para manter as projeções financeiras de 2024. Ou seja: forma-se uma tempestade perfeita, e a ação chora. 

Até amanhã!

 

MAIORES ALTAS

Prio (PRIO3): 2,59%

Sabesp (SBSP3): 2,45%

Assaí (ASAI3): 2,14%

Carrefour (CRFB3): 1,74%

Multiplan (MULT3): 1,44%

 

MAIORES BAIXAS

MRV (MRVE3): -11,78% 

Casas Bahia (BHIA3): -6,34%

Petz (PETZ3): -3,21%  

Raízen (RAIZ4): -3,20%

Azul (AZUL4): -3,20% 

Ibovespa: -0,15%, aos 130.648 pontos

 

Em Nova York

S&P 500: -0,07%, aos 4.780 pontos

Nasdaq: estável, aos 14.970 pontos

Dow Jones: 0,04%, aos 37.711 pontos

 

Dólar: -0,34%, a R$ 4,87

 

Petróleo

Brent: 0,79%, a US$ 77,41 

WTI: 0,91%, a US$ 72,02

 

Minério de ferro: estável, cotado a US$ 137,47 por tonelada

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