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Inflação em alta: como usá-la a seu favor

Ambiente de inflação é ambiente de baixa, que o diga o Ibovespa (-0,87%). Mas calma: até isso abre portas para mais possibilidades de investimento. 

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 27 jul 2021, 15h34 - Publicado em 23 jul 2021, 17h43
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 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
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Turquia e Argentina. Entre as 40 economias mais importantes do mundo, só a desses países apresenta uma inflação em 12 meses na casa dos dois dígitos – 17% no caso dos turcos, 50% no dos Argentinos. 

Agora o Brasil corre um risco sério de entrar para essa turma. Nesta sexta (23) saiu o IPCA-15 de julho, uma prévia da inflação para o mês. A alta em relação a junho foi de 0,72% – acima do que o mercado esperava (0,64%). Nos últimos 12 meses, o acumulado já está em 8,59%. Ou seja: é bem possível que o ano feche ao norte dos 10%.

O Ibovespa, naturalmente, não gostou: queda 0,87%, na contramão dos EUA (veja no próximo intertítulo). É que a bolsa tem um quê de Rogerinho, do Choque de Cultura. Rogerinho é um cara de opiniões firmes, imutáveis, na linha “ambiente de música é ambiente de droga”. Para a bolsa, “ambiente de inflação é ambiente de baixa”. Não tem jeito.

É que só dá para combater inflação aumentando juros (se você não faz isso com força e com vontade, vira uma Argentina, que daqui a pouco vai ter de pedir dinheiro emprestado ao Messi). O problema: ambiente de juro é ambiente de economia fraca. 

É que o sistema funciona assim: o governo imprime dinheiro e oferece aos bancos cobrando uma taxa específica, a Selic. A Selic, então, é o preço que os bancos pagam pelo dinheiro. Quanto mais alta ela for, mais os bancos vão cobrar de você nas compras a prazo. O consumo diminui, e a economia perde tração – até por isso os juros altos são eficazes contra a inflação: os preços param de subir quando o consumo encolhe, enfim. 

A Selic, então, tem subido paulatinamente. Estava em 2% em março. Agora mais do que dobrou, para 4,25%. E tudo indica que vão aumentar para pelo menos 5% na próxima reunião do Copom, a turma que decide os juros do governo. Esse encontro vai rolar nos dias 3 e 4 de agosto. 

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Mas não fica nisso. Também existem os “índices futuros” de juros. Grosso modo, são apostas que o mercado faz sobre qual serão as taxas básicas dos próximos anos. E essas apostas não são apenas apostas: elas definem a remuneração dos títulos públicos de longo prazo. 

Neste momento, aposta-se que a Selic estará em 7,40% em janeiro de 2023. E em 8,45% em janeiro de 2026. E os valores estão subindo. Por isso que o noticiário de hoje está dizendo que os “DIs dispararam”. DIs, nesse caso, são essas apostas quanto ao futuro da Selic. 

Por conta disso, os títulos públicos prefixados com vencimento em 2026 estão pagando 8,5% ao ano, contra 4,25% dos títulos Tesouro Selic, os mais populares, que pagam a taxa básica de juros, seja ela qual for.    

Trata-se de um prêmio pelo risco: se nos próximos anos a Selic baixar, você continua recebendo 8,5% até 2026. Se a Selic tiver de ir 9%, 10%, você se trumbica: seus títulos prefixados estarão pagando menos que o Tesouro Selic – péssimo negócio.

Comprar títulos prefixados em momentos de alta dos índices futuros são uma forma clássica de investimento. Se a Selic começa a cair lá para 2024, por exemplo, não existirão mais títulos prefixados pagando 8,5%. O governo só irá vender títulos que pagam 5%, 6%. Nisso, seu título de 8,5% vira ouro. Se você quiser vendê-lo antes do vencimento, inclusive, vai embolsar um lucro considerável. 

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Se o cenário for o oposto, com a inflação não dando trégua e a Selic aumentando sem parar para detê-la, acontece justamente o inverso: haverão pós-fixados pagando 19%, 20%. E o seu titulinho de 8,5% valerá quase nada no mercado. Se você tiver de vendê-lo antes do vencimento, provavelmente receberá menos do que pagou por eles. Você perde dinheiro. Baita risco.

Pior: se tudo der errado e a inflação degringolar para níveis argentinos, os 8,5% até 2026 representarão uma perda fixa monumental.  

 

Mas existe um título público que não traz este último risco. Trata-se do IPCA+, que paga a inflação mais um juro extra. Em momentos de alta nos índices futuros, esse extra tende a ser gordinho. Hoje, os IPCA+ com vencimento em 2026 estão pagando a inflação mais 3,68%. Em valores atuais, isso dá 12,27% (8,59% de inflação anual + o jurinho extra).

A parte especulativa dos IPCA+ é a mesma dos prefixados: se os juros futuros caírem, esses títulos que pagam um extra de 3,68% vão valer ouro.  

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Se os juros futuros seguirem subindo, os IPCA+ perdem valor também, igual os prefixados. Ma eles são um puco mais seguros. Se a inflação for a, sei lá, 17% e ficar nesse patamar por anos, ele vai pagar 20,68% anuais até o vencimento. Não será uma maravilha. Uma inflação desse porte significará uma Selic igualmente alta. Até a poupança estará dando uns 15% ao ano. Ainda assim, seu dinheiro fica protegido, ao menos se você puder guardar o título até o vencimento.

Ou seja: se esse for o seu caso, não é um mal momento para comprar IPCA+. Se tudo der certo e a inflação voltar ao controle, ele valoriza forte, já que 3,68% são uma taxa relativamente alta. Se tudo der errado, seu dinheiro pelo menos fica protegido da inflação – mas vale reiterar: só faça isso se você estiver certo de que não vai precisar do dinheiro antes do vencimento. Se não, a jogada vira especulação pura. 

Mais recordes na gringa

Nos EUA, a inflação também preocupa. A inflação deles em 12 meses está em 5,4%, com viés de alta. Mas isso não impediu os índices das bolsas americanas de encerrarem a semana renovando seus recordes históricos (veja nos ítens abaixo). 

Cortesia da nova temporada de balanços. Netflix, Johnson & Johnson, Coca-Cola, Intel, Southwest Airlines e Twitter apresentaram resultados melhores do que a expectativa do mercado. 

Com altas espalhadas por setores tão díspares, as bolsas gringas pegaram fogo nesta sexta, com o pessoal comprando loucamente a espera de mais resultados acima dos previstos entre as empresas que divulgam seus balanços já na semana que vem, como o Facebook e a Alphabet (Google).  

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Hypera

Por aqui, destaque positivo para a Hypera (+3,52). A farmacêutica divulga seu balanço para do 2T21 depois do pregão. A Bloomberg estima que eles vão divulgar uma receita de R$ 1,5 bilhões – 50% acima do 2T20. Pelo jeito, o mercado confiou.   

Braskem

Na ponta negativa para a Braskem (- 5,56%). A divulgação do balanço deles ainda está longe, sai só no da 04 de agosto. Mas eles adiantaram que suas vendas no Brasil caíram cerca de 10%. Mesmo assim, a petroquímica segue firme como a maior valorização do ano: 150% até aqui. Hering (127%) e Embraer (109%) completam o clube dos 100% entre as empresas listadas no Ibovespa. 

Magalu

MGLU3 também teve um dia particularmente ruim. A empresa de Luiza e Fred Trajano vai lançar 175 milhões de novas ações no mercado, numa operação que vai levantar perto de R$ 4 bilhões para a companhia. Hoje, eles precificaram essas novas ações a R$ 22,75 – abaixo do preço de fechamento de ontem, que foi de R$ 23,25. O mercado, pelo jeito, achou pouco, e as ações “velhas” caíram 2,80%, a R$ 22,60. 

Mas a real é que o pregão foi de balde de água fria para basicamente todo mundo. Depois de o IPCA-15 colocar água no chopp da B3, só 11 das 84 ações que compõem o Ibovespa terminaram acima de zero. Vamos ter de sextar com essa. 

Até segunda!

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Maiores altas

Hypera: 3,52%

Usiminas: 1,36%

Minerva: 1,06%

Locamerica: 0,92%

Metalúrgica Gerdau: 0,85%

Maiores baixas

Braskem: – 5,56%

Pão de Açúcar: – 3,56% 

Magalu: – 2,80%

Americanas: – 2,64%

CVC: 2,61%

Ibovespa: queda de 0,87%, a 125.052 pontos 

Em Nova York

S&P 500: alta de 1,02%, aos 4.411 pontos

Nasdaq: alta de 1,04%, aos 14.836 pontos

Dow Jones: alta de 0,68%%, aos 35.061 pontos

Dólar: baixa de 0,05%, a R$ 5,21

Petróleo

Brent: alta de 0,42%, a US$ 74,10

WTI: alta de 0,22%, a US$ 72,07

Minério de ferro:  queda de 0,64%, a US$ 201,33, no porto de Qingdao (China)

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