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Instinto de sobrevivência: o maior inimigo do investidor

Nosso cérebro foi moldado para entrar em pânico diante de ameaças imaginárias. Entenda como isso pode ser prejudicial para o seu bolso.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 11 abr 2022, 13h03 - Publicado em 8 abr 2022, 05h00
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 (shapecharge/VOCÊ S/A)
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A evolução, no sentido científico da palavra, é a força que moldou o cérebro do Homo sapiens. Foi um belo trabalho. Ela conferiu a cada um de nós um supercomputador biológico no crânio: 1,5 quilo de neurônios tão agitados e produtivos que, apesar de responderem por 2% do peso corporal, consomem 20% de todas as calorias que a gente ingere. Graças ao poder de processamento dessa maçaroca de células nervosas criamos a escrita, a matemática, o comércio – as ferramentas que nos trouxeram até aqui.

Mas não saiu de graça. A evolução colocou alguns bugs no nosso cérebro. Como pontuou o neurocientista americano Robert Sapolsky, zebras não têm úlcera. Não sofrem de ansiedade. Comem sua grama de boa perto dos leões, e só esquentam a cabeça caso um deles corra em sua direção. Nós não. Humanos tornaram-se especialistas em prever riscos. Nossos cérebros escaneiam a realidade o tempo todo em busca de ameaças.

E é esse radar que move os mercados. Em 2008, o petróleo caiu de US$ 146, em julho, para US$ 36, em dezembro. Um tombo de 75%. Temia-se o seguinte: a crise bancária dos EUA, que estourou em setembro daquele ano, machucaria a economia a ponto de ceifar a demanda por petróleo. Era uma ameaça imaginária. O consumo de petróleo até caiu de 2008 para 2009. Mas bem menos do que se esperava: -1,8%.

A sensibilidade humana para perigos em potencial cria distorções o tempo todo. Em 2021, a bolsa brasileira apareceu no ranking global da Bloomberg como a pior do mundo. A lista deles é em dólar, ou seja, se o preço das ações (em real) caírem e a cotação da moeda brasileira baixar também, turbina-se o baque. Foi o que aconteceu: queda de quase 20% somando os dois fatores.

Com a notícia, intensificou-se por aqui a febre por dolarizar investimentos – tipo trocar um ETF que rende de acordo com o Ibovespa por algum que
acompanhe o S&P 500 (e ao mesmo tempo o dólar). Tudo isso sem se importar com o fato de que o índice americano já parecia sobrevalorizado, após uma alta de 43% entre 2020 e 2021.

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Bom, neste primeiro trimestre de 2022, o Brasil voltou a se destacar no ranking da Bloomberg. Agora, de forma positiva. O real apreciado e as ações em franca decolagem, com estrangeiros trocando a bolsa de lá pela daqui, colocaram o Brasil no topo da lista. Viramos a melhor bolsa do mundo: alta de 30% em dólar até a última semana de março.

Mesmo assim, brasileiros seguem fugindo da bolsa. Em março, até o dia 24 (quando este texto era escrito), investidores pessoa física tinham colocado R$ 83,2 bilhões na bolsa, e tirado R$ 91,3 bilhões. Um saldo negativo em R$ 8,1 bilhões. Entre os Institucionais (bancos e fundos brasileiros), outro saldo negativo, de R$ 17,7 bilhões. Já os investidores estrangeiros fizeram o oposto: R$ 24 bilhões de saldo positivo, o que elevou a entrada líquida de dinheiro gringo no ano para R$ 86,6 bilhões – quase o mesmo tanto dos 12 meses somados de 2021 (R$ 101 bi).

Claro que o amor antigo do brasileiro por renda fixa ajuda a explicar o movimento. Mas os estrangeiros também têm a opção de investir nos nossos juros monstruosos, e isso não lhes tira o apetite pela nossa bolsa.

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Uma parte razoável da explicação está, sim, no bug que nosso cérebro carrega. Por aqui, a notícia já antiga de que tínhamos a “pior bolsa do mundo” bateu com mais força, por motivos óbvios. E a evolução nos forjou para dar mais atenção a notícias negativas, ameaçadoras, do que às positivas.

Em suma: quem pretende ganhar dinheiro de fato no mercado deve aprender a domar esse instinto. De outra forma, tenderá sempre a comprar na alta e vender na baixa, junto com a manada.

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