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Lula chama teto de “estupidez” e estende isenção sobre combustíveis, Ibovespa cai 3,06%

O presidente desautorizou Haddad e aprovou dois meses extras de alívio nos tributos. E o fantasma da distribuição de crédito pelos bancos públicos volta a assombrar quem foi obrigado a trabalhar de ressaca na Faria Lima.

Por Bruno Vaiano
2 jan 2023, 18h40
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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É difícil saber o que causou mais indigestão nos investidores, hoje: as dezesseis cervejinhas do almoço de Ano-Novo ou a posse do Lula. O Ibovespa caiu 3,06% no primeiro pregão do novo governo, e o dólar subiu 1,51%, a R$ 5,35.

As falas inaugurais do presidente eleito deixaram claro o que a Faria Lima já suspeitava: que a política econômica dos próximos quatro anos promete ser mais desenvolvimentista do que ortodoxa, com mais intervenções na economia e menos austeridade nos gastos públicos. Lula, no Congresso, chamou o teto de gastos de “estupidez”. Troféu Xeroque Rolmes para a Faria Lima.

Talvez haja um outro suspeito. Com as bolsas de Nova York e Londres fechadas – a exemplo do que ocorreu na segunda após o Natal, os investidores gringos estão tirando um feriado para descansar do exaustivo domingo de Ano-Novo (rs) –, o volume de negócios caiu pela metade da média do ano passado. Em dias assim, o Ibovespa flutua com mais intensidade, porque cada compra ou venda de ações têm uma contribuição individual maior sobre a variação do índice como um todo. Esse fenômeno amplificou a baixa. 

Lula chegou mostrando serviço: em uma de suas primeiras medidas provisórias, ele estendeu por mais dois meses a isenção de impostos federais sobre combustíveis – e por até um ano os subsídios ao diesel e ao gás de cozinha. O que ele fez foi dar continuidade à medida eleitoreira de Bolsonaro, e tentar evitar um choque de “descongelamento” de preços logo na chegada ao Planalto. Haddad e sua equipe eram contra, já que a ausência desses tributos reduz a arrecadação em R$ 52,9 bilhões por ano, e, portanto, tornará ainda mais difícil fechar as contas de 2023. O mercado lê o acontecimento com pessimismo: ainda que Haddad tenha boas intenções, ele não demonstrou ter muque político para fazer valer a primeira delas. 

Hoje de manhã, em sua cerimônia de posse na unidade brasiliense do Centro Cultural Banco do Brasil, o novo ministro da Economia tentou apaziguar os ânimos da Faria Lima: disse que o Estado seria “forte, mas não obeso”, e que não deixará o déficit alcançar a cifra de R$ 220 bilhões que está na planilha de Excel de todo mundo. Ele também prometeu que a nova âncora fiscal flexível, que substituirá o teto de gastos da gestão Temer, será entregue para avaliação do Congresso ainda no primeiro semestre.

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Por fim, o ministro desfez alguns abusos da reta final do mandato bolsonarista. Por exemplo: em 30 de dezembro, o governo havia criado quatro cargos no exterior para acomodar amigos do ex-presidente. Essas posições já foram revogadas.  Ele também cancelou as reduções de impostos a grandes empresas, “surpresinhas” do apagar das luzes do governo passado.

Fofo, mas não teve força suficiente para ecoar na metade dos investidores que precisou acordar para trabalhar em uma segunda fuén – e resolveu ver o copo meio vazio. 

É que Lula, além de desautorizar seu ministro, caprichou na polêmica no primeiro dia. O presidente também oficializou o óbvio: barrou a privatização da Petrobras e de outras empresas públicas (Correios e ECB), acompanhado da declaração de que as estatais e os bancos públicos são atores centrais do desenvolvimento do país. 

Essa declaração põe mais lenha na fogueira dos temores parafiscais, ou seja: do medo de que o governo injete dinheiro na economia por vias alternativas, concedendo créditos a empresas a juros baixos via BNDES ou Caixa enquanto o Banco Central se desdobra para combater a inflação no país com a arma dos juros altos. O choque entre essas políticas é desastroso – pode gerar um cenário em que a Selic permanece no talo, freando a atividade econômica, enquanto a inflação continua subindo. 

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A gestão petista também reiterou o recado de que não vai tolerar ações como a distribuição recorde de dividendos pela petroleira: “os recursos do país foram rapinados para saciar a estupidez dos rentistas e de acionistas privados das empresas públicas.” Ruim para os papéis: PETR4 caiu 6,44%, o Banco do Brasil (BBAS3), -4,23%. 

Em meio ao Deus-nos-acuda, só a turma do minério se salvou: Vale (0,59%) e CSN (1,17%) subiram um pouquinho sem referência externa, já que as bolsas asiáticas estão fechadas para o ano-novo e não há cotações da commodity para seguir em Dalian ou Cingapura.  

A ver como o mercado se comporta amanhã, com um volume de negócios maior, menos gente de ressaca e a preocupação com as movimentações no exterior. Bom descanso!

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Maiores altas

Méliuz (CASH3): 3,39%
Suzano (SUZB3): 1,53%
CSN (CSNA3): 1,17%
Gerdau (GGBR4): 0,62%
Vale (VALE3): 0,59%

Maiores baixas

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São Martinho (SMTO3): 11,39%
Grupo Soma (SOMA3):  8,78%
Locaweb (LWSA3): 8,66%
Hapvida (HAPV3): 8,55%
Rede D’Or (RDOR3): 8,45%

Ibovespa: -3,06%, aos 106.376 pontos

Em NY:

Bolsas fechadas para feriado prolongado de Ano-Novo, não houve pregão. 

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Dólar: 1,51%, a R$ 5,35

Petróleo

Feriado prolongado de Ano-Novo, não há cotações.

Minério de ferro: Feriado prolongado de Ano-Novo, não há cotações.

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