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Lula já pode pedir música no Fantástico: critica o BC pela 3ª vez – mas PETR4 segura barra do Ibovespa

A interrupção de um oleoduto após o terremoto na Turquia e uma declaração esperançosa sobre a reabertura chinesa puseram a Petrobras no ranking de maiores altas – e frearam o derretimento do índice, cabisbaixo com a cruzada de Lula contra a política de juros do Banco Central. 

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 6 fev 2023, 19h16 - Publicado em 6 fev 2023, 18h46
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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O Ibovespa passou o dia quase todo em baixa, amuado pela Vale e pelas declarações mais recentes de Lula contra a política monetária do Banco Central. Mas, do outro lado da gangorra, havia as ações da Petrobras – que fecharam o dia em alta acentuada de 3,99%. Resultado: o índice terminou o pregão praticamente estável, em ligeira alta de 0,18%. 

Para as petroleiras, foi uma tempestade perfeita, só que no bom sentido. Primeiro, houve uma declaração do diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA). Fatih Birol disse que a China está pronta para uma recuperação econômica mais forte que a esperada agora que caíram as restrições contra a pandemia – o que geraria uma demanda espantosa por petróleo. É claro que ninguém realmente sabe qual é o verdadeiro fôlego do tigrão asiático após três anos de lockdowns severos. Mas os traders de commodities botaram fé (e preço) na declaração. 

Também houve o terremoto na Turquia. A tragédia paralisou um terminal de petróleo importante localizado na cidade de Ceyhan, e deixou todo o setor preocupado com a integridade das cadeias de fornecimento. Boa parte do óleo viscoso extraído no Iraque e no Azerbaijão chega à Europa por meio de um oleoduto que passa por ali. Quando há uma disrupção assim, os preços sobem por conta do medo de um apagão na oferta de combustível. 

Para completar, petroleiras da Arábia Saudita, da Europa e dos EUA aumentaram o preço do produto simultaneamente. O resultado de tudo isso foi o Brent em alta de 1,31%, a US$ 80,99 – nada absurdo, mas note que, na semana passada, o barril tinha caído 7,5%. Não foi só a Petrobras que pegou carona: PRIO3 fechou o pregão em 2,56%, RRRP3 marcou 2,73%.

Os motivos para a alta das petroleiras foram bem claros – os motivos para a queda das mineradoras e siderúrgicas, nem tanto. A cotação do minério de ferro fechou em alta 0,89% na bolsa de Dalian, na China, animada pela mesma esperança do diretor da IEA. Ou seja: não foi por falta de fome na Ásia que o setor foi mal do lado de cá do Pacífico. 

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Alguns entrevistados pelo serviço Bom Dia Mercado (BDM) culparam um relatório da S&P Global Commodity Insights que apontou uma queda recente de 4,7% nos preços do aço longo. Esse é um jargão engraçado da indústria siderúrgica, justamente porque não é um jargão. Ele diz exatamente do que se trata o produto: peças de aço muito compridas.

Outra possibilidade é que esse seja um movimento de realização de lucros puro e simples. Vale e sua turminha heavy metal subiram em bloco desde o ano passado, acompanhando a melhora vertiginosa na cotação do minério decorrente da reabertura chinesa. VALE3 subiu de R$ 67, em novembro, para R$ 98 em 26 de janeiro. Um estrondo de 45%. De lá para cá, porém, os preços voltaram a cair. Hora de sacar a grana, portanto. 

Enquanto isso, na Sala da Justiça… 

Lula já pode pedir música no Fantástico. Ele criticou pela terceira vez o Banco Central por manter a Selic em 13,75%. “Não existe nenhuma justificativa, nenhuma justificativa, para que a taxa de juros esteja, neste momento, a 13,5%. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira.”

Desta vez, a cena fez juz aos piores pesadelos faria limers: o pronunciamento do presidente rolou durante a posse do petista Aloizio Mercadante no BNDES, nomeação que já deu um ruído danado.

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Relembrando: a Lei das Estatais, originalmente, proibia a nomeação de políticos para a diretoria ou para o conselho de administração de empresas controladas pelo governo federal. Só valiam nomes técnicos, que não tivessem ocupado cargos decisórios em partidos ou trabalhado em campanhas nos últimos 36 meses. 

Mas Lula queria pôr Mercadante no BNDES e o senador Jean Paul Prates na presidência da Petrobras, então mexeu os pauzinhos no Congresso para derrubar esse trecho da norma – uma manobra que rolou em 14 de dezembro, antes de ele assumir. 

Mercadante foi ministro da Casa Civil no governo Dilma, e seu nome ficou associado ao desastre na condução da política econômica brasileira no segundo mandato da presidente, que o considerava seu braço direito. 

O medo dos faria limers é que – nas palavras deste mesmo repórter, alguns meses atrás – “Mercadante injete um caminhão de dinheiro na economia pela via alternativa do BNDES, na forma de linhas de crédito generosas para empresas, enquanto o Banco Central se esforça para fechar a torneira de dinheiro do outro lado e conter a inflação. Essa é a tal política parafiscal, que aquece a economia via bancos públicos, sem passar pelo Bacen ou pelo Executivo.” 

Resumindo: tanto a posse de Mercadante como a declaração de Lula alimentam o mesmo receio – o de que a gestão petista ponha muita moeda em circulação e complique a tentativa do Copom de frear a inflação por meio de uma Selic restritiva.

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Essa polêmica teve ainda um terceiro elemento, o Boletim Focus da semana, que sai toda segunda. Os investidores têm acompanhado a publicação com afinco redobrado, de olho nas previsões para a inflação ao final de 2023 e 2024. Elas já subiram oito vezes com os questionamentos constantes de Lula ao Bacen e o medo generalizado da gestão petista, e alçaram voo de novo nesta segunda: 5,78% para 2023 e 3,93% para 2024, contra respectivamente 5,74% e 3,90% no boletim da semana passada. 

Lula e os coletinhos do Condado concordam em uma coisa: ambos odeiam juros altos. Do ponto de vista dos investidores, uma Selic no talo sufoca a bolsa de valores e gera uma debandada para investimentos mais seguros, de renda fixa. Do ponto de vista do presidente, ela desacelera a economia do país e dificulta a geração de empregos. E é fato que nosso juro real (acima da inflação) é o mais alto do mundo: em 8% neste momento.

Por outro lado, juros altos são o remédio mais recomendado contra a inflação (a não ser que você prefira confisco de investimentos, à la Collor, ou congelamento de preços, estilo Sarney). E interromper esse tratamento de choque na hora errada hoje pode significar altas de preços descontroladas (e juros ainda mais altos) amanhã.

É por isso que os juros futuros sobem (elevando brutalmente as remuneraçãos dos títulos prefixados e IPCA+), e o dólar ganhar força contra o real, em dias animados como hoje. Quanto mais Lula criticar o Banco Central, mais os investidores ficarão com medo da integridade da moeda brasileira, buscarão abrigo na estabilidade das verdinhas americanas e passarão a exigir um prêmio mais alto para se arriscar na nossa economia. Não há como lutar contra a lógica elementar da economia.

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Maiores altas

Ultrapar (UGPA3): 4,30%
Petrobras PN (PETR4): 3,99%
Vibra (VBBR3): 3,90%
Petrobras ON (PETR3): 3,63%
Cielo (CIEL3): 3,44%


Maiores baixas

BRF (BRFS3): -7,24%
Marfrig (MRFG3): -6,75%
Qualicorp (QUAL3): -5,06%
Via (VIIA3): -4,76%
Eztec (EZTC3): -4,30%

Ibovespa: 0,18%, a 108.721 pontos

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Em NY:

S&P 500: -0,62%, a 4.110 pontos
Nasdaq: -1,00%, a 11.887 pontos
Dow Jones: -0,11%, a 33.889 pontos

Dólar: 0,51%, a R$ 5,17


Petróleo

Brent: 1,31%, a US$ 80,99
WTI: 0,98%, a US$ 74,11

Minério de ferro: 0,89%, a US$ 126,03 a tonelada na bolsa de Dalian

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