Mercado americano vive seu pior início de ano desde 2016
Desemprego cai nos EUA, o que abre mais espaço para o Fed subir os juros. Por aqui, Ibovespa se segura na Vale e engata segunda alta seguida, mas fecha a semana no vermelho: -2%.
A primeira semana do ano termina com o desemprego nos Estados Unidos caindo para o menor patamar desde o início da pandemia: 3,9%. É um índice próximo ao do último mês pré-pandêmico, fevereiro de 2020, quando o índice estava em 3,5% – o menor da história deles. Hora de o mercado soltar fogos, então? Nada: não só o S&P 500 caiu 0,41% hoje como cravou seu pior início de ano desde 2016 – tombo de 1,9% na semana.
Parece contraditório, mas não.
Depois da bomba nuclear que o banco central americano jogou nas bolsas na quarta-feira, anunciando que deve aumentar os juros antes do previsto (entre outras medidas contracionistas), investidores aguardavam ansiosamente o payroll, o relatório sobre criação de empregos no país no mês de dezembro, para ter mais pistas sobre os próximos passos do Fed. Se o mercado de trabalho se mostrasse forte, o órgão teria um caminho mais livre para acelerar a retirada de estímulos à economia.
Dito e feito: o desemprego caiu para a mínima pandêmica – e confirmou a leitura do mercado de que o Fed vai seguir na sua escalada agressiva contra a inflação, fazendo de 2022 um ano difícil para as bolsas.
O Ibovespa, por sua vez, surfou na alta das commodities e subiu 1,14% nesta sexta-feira, mas na semana acumula uma baixa equivalente à do principal índice dos EUA: -2,01%.
Emprego em alta, inflação também
O relatório de empregos americano divulgado nessa sexta-feira trouxe dados aparentemente mistos: a criação de novos postos de emprego no país foi bem abaixo do esperado – foram 199 mil novas vagas, contra 422 mil esperadas. O Goldman Sachs previa 500 mil; o Deutsche Bank era ainda mais otimista, contando com 600 mil novos postos.
À primeira vista, o número pode parecer indicar uma economia mais fraca do que esperado. Mas outros dados do relatório mostram que não é bem assim. A taxa de desemprego no país ficou em 3,9% (próximo das melhores marcas históricas) e também melhor que a média das previsões – elas apontavam para 4,1%. Mais: o salário médio por hora subiu 0,61% em dezembro ante novembro, acima do consenso de 0,40%. Na comparação anual, o ganho também superou as expectativas: 4,68%, contra 4,2%.
A leitura do mercado foi de que, apesar da decepção com o número de novas vagas, os dados revelam um mercado de trabalho bastante forte – o suficiente para caminhar com as próprias pernas, sem precisar mais da ajuda do Fed e sua generosa política de estímulos. E o mercado sempre prefere um banco central de torneira aberta, já que os dólares extras dos estímulos mais hora menos hora acabam fluindo para a bolsa.
Analistas ouvidos pela Bloomberg e pelo Wall Street Journal resumiram: não há nada no payroll que pressione o Fed a mudar seus planos; pelo contrário: reforça a estratégia. O BC americano já adiantou que 2022 será o ano de três altas na taxa de juros, e que elas ocorrerão mais rapidamente do que o esperado – o mercado aposta agora na primeira já em março. Mais: o órgão vai começar a abrir o ralo para drenar parte parte considerável dos dólares que colocou em circulação na pandemia. Tudo isso, é claro, tira a atratividade das bolsas.
O Fed faz isso para combater a grande protagonista da vez: a inflação. Nos EUA, é a maior em 40 anos (6,8%), e a ideia de que ela poderia ser transitória já foi enterrada de vez. Hoje, ela também mostrou seu poder na Zona do Euro: a inflação ao consumidor (CPI) de dezembro foi de 5%, maior alta para o mês desde 1991 – e mais que o dobro da meta de 2% estipulada pelo Banco Central Europeu. O índice EuroStoxx 50, que reúne as principais ações do velho continente, caiu 0,44%.
Como o payroll não trouxe grandes mudanças de direção da economia americana, os índices americanos seguiram sua sequência de quedas que começou com a ata agressiva do Fed.
E o Índice Nasdaq, que reúne as ações de tecnologia, sangrou mais – afinal, são esses papéis que mais sofrem com a alta dos juros (precisam de mais empréstimos para operar, por serem, em geral, empresas mais jovens). O índice perdeu 0,96% hoje, e grossos 4,5% na semana.
No Brasil
O Ibovespa, veja só, foi na contramão de Wall Street nesta sexta. Subiu 1,14%. Quem ajudou o número a se firmar no azul foi a Vale, que sozinha corresponde a quase 15% do Ibovespa. A mineradora subiu 5,82% na esteira do preço do minério de ferro, que teve alta de 0,35% na China hoje – a sétima alta seguida, acumulando ganhos de mais de 6%. Usiminas, Bradespar e CSN também tiveram altas robustas pelo mesmo motivo.
Entre as maiores altas do dia também está a Petrorio, que subiu 4,54% na esteira do preço do petróleo – o Brent até caiu hoje, mas fecha a semana com alta de 5%. Na outra ponta, os papéis do varejo dominaram as maiores perdas. Eles seguem sentindo o baque das altas nos juros por aqui, já que a Selic em alta (9,25% e subindo) complica as compras a prazo.
E a leitura é: não há mercado que passe incólume quando o clima é de juros na estratosfera e inflação em órbita.
Até segunda.
Maiores altas
Banco Inter – Units (BIDI11): 15,46%
3R Petroleum (RRRP3): 6,88%
Petrorio (PRIO3): 5,82%
Usiminas (USIM5): 4,78%
Vale (VALE3): 4,54%
Maiores baixas
Lojas Americanas (LAME4): -5,44%
Americanas (AMER3): -5,33%
Eletrobras ON (ELET3): -4,38%
Via (VIIA3): -4,36%
Positivo (POSI3): -3,74%
Ibovespa: 1,14%, aos 102.719 pontos
Em Nova York
S&P 500: -0,41%, aos 4.677 pontos
Nasdaq: -0,96%, aos 14.935 ponto
Dow Jones: -0,01%, aos 36.231 pontos
Dólar: -0,85%, a R$ 5,6315
Petróleo
Brent: -0,29%, a US$ 81,75
WTI: -0,70%, a US$ 78,90
Minério de ferro: 0,35%, cotado a US$ 128,03 no porto de Qingdao (China)