Mercados acordam de ressaca após reunião do Fed – menos o Ibov
Bolsas americanas apontam para dia de volatilidade, e China entra em bear market
O mercado financeiro ainda tá um pouco zonzo. Ontem o Banco Central americano confirmou aquilo que já estava no radar de investidores: a alta de juros nos EUA começa em março, exatamente dois anos depois de eles terem sido levados para perto de zero como medida de proteção à economia durante a crise do coronavírus.
E, durante uma entrevista a jornalistas, Jerome Powell, o presidente do Fed, disse ainda que deve elevar sua previsão para a inflação em 2022 e que ele e seus colegas vão usar mais duas reuniões para decidir o melhor momento para enxugar uma parte do dinheiro que foi injetado na economia nesses dois últimos anos.
Essa sinalização de que o BC americano finalmente fará alguma coisa (muita coisa, na verdade) para conter a inflação levou as bolsas americanas a mais um tombo no pregão de ontem. Quando nós aqui da Você S/A acordamos para escrever essa abertura de mercado, os futuros dos índices americanos indicavam mais um dia de queda. Enquanto escrevíamos, eles deram uma aliviada e Wall Street ensaiou uma tentativa de recuperação. Durou menos de uma hora e foi todo mundo para o negativo de novo. Resumo: o dia promete ser volátil.
Hoje é um dia crítico porque no final do pregão sai o balanço da Apple, a empresa com maior peso nos dois índices. Então, há uma grande expectativa no horizonte também. É que para além da ansiedade com a alta da taxa de juros nos EUA, investidores começaram a trabalhar com a possibilidade de que as grandes empresas de tecnologia teriam dificuldades de entregar resultados acima das expectativas, como vinha acontecendo nos últimos anos.
A Tesla até bateu recorde de lucro, anunciado ontem após o fechamento do mercado, mas precisou adiar o lançamento de seu novo veículo, o Cybertruck, para 2023, uma cortesia da falta de componentes que continua assombrando o mundo.
Na Ásia, as bolsas tiveram um pregão negativo, em uma reação ao Fed, e entraram em Bear Market, quando ações caem mais de 20% em relação ao pico recente. Sem tanto dinheiro circulando, sobra menos para elas, claro. É o caso do principal índice chinês, o CSI 300, e do índice sul-coreano Kospi.
Surpreendentemente, o Ibovespa vem desviando da crise tal qual Neo escapa das balas em Matrix. Quem diria. Boa quinta.
Futuros S&P 500: -0,29%
Futuros Nasdaq: -0,27%
Futuros Dow: -0,28%
*às 8h04
Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,18%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,48%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,32%
Bolsa de Paris (CAC): 0,01%
*às 8h03
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -1,96%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -3,11%
Hong Kong (Hang Seng): -1,99%
Brent: 0,36%, a US$ 90,28*
*às 8h00
10h30 – O governo dos EUA divulga o PIB preliminar do quarto trimestre de 2021.
10h30 – O departamento do trabalho americano apresenta os dados semanais de pedidos de auxílio-desemprego.
ICMS no freezer por mais tempo
Anunciado para o dia 31 de janeiro, o descongelamento do ICMS cobrado sobre os combustíveis deve ser prorrogado. Ontem, 21 governadores assinaram uma carta em que defendem a prorrogação da medida por mais 60 dias – a decisão precisa ser ratificada pelo Confaz, o conselho que reúne os 27 secretários estaduais de Fazenda. O primeiro período de congelamento da alíquota de ICMS sobre os combustíveis teve início em novembro, após pressões de Jair Bolsonaro e de membros do Congresso por uma revisão no cálculo de tributação. Bolsonaro vinha colocando a culpa da alta da gasolina e do diesel nos governadores, porque o ICMS era calculado mensalmente com base no valor de preço de venda nas bombas. O diesel e a gasolina subiram, respectivamente, 46,8% e 46,5% no ano passado, em consequência da valorização do preço do petróleo no mercado internacional e da valorização do dólar.
Nada disso se resolveu e, há duas semanas, a Petrobras fez o primeiro aumento de 2022 nos preços do diesel (8,08%) e da gasolina (4,85%). E considerando a escalada nos preços do petróleo neste ano, de 13,3%, novos aumentos devem vir por aí.
O último que sair apaga a luz
O projeto da Meta (ex-Facebook) de lançar a própria criptomoeda esbarrou em tantas restrições regulatórias que a companhia estuda desistir do projeto. A Diem Association (a entidade criada para lançar a cripto) planeja vender parte de seus ativos para devolver aos investidores o dinheiro colocado na empreitada. Mark Zuckerberg lançou o plano em 2019, com o nome de libra, A ideia era que fosse uma stablecoin – tipo de criptomoeda que tem seu valor vinculado a algum outro ativo, como o dólar – e utilizá-la para transações de compra e venda nas redes sociais controladas pela Meta. O medo de que o então Facebook tivesse um poder desmedido sobre o sistema financeiro global fez com que autoridades podassem o projeto.
O tiro de misericórdia veio no final do ano passado, quando o Fed afirmou que a moeda precisaria ser emitida por um banco – o oposto do objetivo de lançar uma cripto.
Flexibilidade total
As empresas americanas vão ter que oferecer a seus funcionários mais do que a já consolidada flexibilidade de local de trabalho. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Future Forum, uma organização focada em analisar tendências do mundo profissional. De acordo com o resultado do estudo, 78% dos entrevistados defendem um regime que misture expediente presencial e remoto. Só que 95% deles também querem escolher seus próprios horários de trabalho. E esse não é o único desafio com o qual as companhias vão ter de lidar para gerenciar equipes daqui em diante. Leia a reportagem do The Wall Street Journal.
Deu ruim
Assim que o Banco Central anunciou a possibilidade de pessoas físicas e jurídicas resgatarem mais de R$ 8 bilhões “esquecidos” em poder de instituições financeiras, uma caça ao tesouro teve início. Na segunda-feira à noite, a plataforma de consulta do BC saiu do ar por causa do alto número de acessos. E, apesar de R$ 900 mil terem sido resgatados, muitas pessoas não conseguiram verificar se tinham algum dinheiro para receber ou se frustraram com o que encontraram. Em alguns casos, menos de R$ 2. Leia a reportagem d’O Globo.
Nos EUA, antes da abertura do mercado, saem os balanços de Mastercard e Mc Donald’s. Depois do fechamento, Apple e Visa.