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Não, Cristiano Ronaldo não fez Coca-Cola perder bilhões. Entenda.

A queda nas ações da empresa começou antes da declaração do jogador – e, depois dela, houve até uma recuperação.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 18 jun 2021, 17h32 - Publicado em 18 jun 2021, 17h31
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 (UEFA / Handout/Getty Images)
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Você deve ter lido por aí como o jogador português Cristiano Ronaldo fez a Coca-Cola perder bilhões em valor de mercado nesta semana. Tudo porque ele teria afastado garrafas da bebida em uma coletiva de imprensa da Eurocopa e recomendado que as pessoas tomassem água no lugar  – obviamente, por ser mais saudável (veja o vídeo aqui). Segundo algumas notícias que circularam por aí, esse simples gesto teria feito a companhia perder US$ 4 bilhões em valor de mercado.

Bom, só que não foi bem assim. A declaração do jogador ocorreu em uma coletiva de imprensa na segunda-feira (14), às 15h45 no horário da Europa Central. Em Nova York, onde as ações da Coca-Cola são negociadas, era 9h45 da manhã (10h45 aqui no Brasil).

Só que as bolsas abriram 15 minutos antes, e a Coca já estava em forte queda. As ações dela (negociadas com o ticker KO) fecharam na sexta-feira (11) custando US$ 56,16, segundo o histórico que você pode conferir no site do Yahoo Finance. Aí, na segunda-feira, como ocorre todo dia, houve o leilão de abertura da bolsa: ocasião em que os investidores registram suas ofertas de compra e vendas de ações. É isso que define o valor de abertura das ações – e foi no leilão que o preço da Coca-Cola caiu. Naquela segunda-feira, elas abriram valendo US$ 55,69, uma queda de 0,9% em relação ao fechamento de sexta. Tudo isso antes da tal coletiva de imprensa.

A diferença foi de US$ 0,47. Tinha um motivo: a segunda foi o dia em que os papéis da Coca foram negociados ex-dividendos. Perdão o palavrão. É que toda vez que uma empresa anuncia a distribuição de lucros aos acionistas, ela estabelece uma data em que a ação não dá mais direito àquele naco do lucro. Para o acionista que tinha o papel na sexta, não muda nada. Ele ganha os centavos dos dividendos (era US$ 0,42) e continua com o mesmo dinheiro no total. Quem comprou na segunda precisa esperar a próxima distribuição de resultados.

Tanto era um movimento previsto, que depois as coisas se reajustaram. Ao longo do dia, o preço do ativo flutuou entre a máxima de U$ 55,71 e a mínima de U$ 55,20. No fim, recuperou parte das perdas que teve logo no começo do pregão e fechou custando U$ 55,55. Ou seja: o gesto do jogador ficou só para o anedotário.

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É claro que declarações ou gestos de pessoas muito famosas – como é o caso de Cristiano Ronaldo, que é o indivíduo com mais seguidores em todo o mundo no Instagram – podem afetar o mercado financeiro. Mas nesse caso, virou só uma explicação aleatória para o movimento do mercado.

Só que, a partir de terça-feira (15), grandes jornais como o The Washington Post e o USA Today começaram a atribuir a queda das ações ao gesto de Cristiano Ronaldo. E aí a publicidade negativa veio forte, com vários outros veículos replicando a mesma notícia. Isso sim parece ter tido um impacto negativo na imagem da empresa: as ações só estão caindo desde então, fechando nesta sexta-feira a U$ 53.77. Isso deu um tombo de mais de 4%.

E nem mesmo isso dá para colocar na conta do jogador português. É que o S&P 500, o principal índice de ações americanos, caiu 1,9%, na sua pior semana desde fevereiro. O motivo é a dificuldade de investidores ajustarem as previsões de inflação e alta de juros lá nos EUA. Só que esse rame-rame não é tão divertido quanto dizer que Cristiano Ronaldo não gosta de Coca-Cola.

 

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