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No fundo do poço tinha um alçapão. Bolsonaro abriu: dólar a R$ 5,59; bolsa, -3,28%

A ideia do Auxílio Brasil a R$ 400 pode jogar a economia brasileira num círculo vicioso, no qual os juros passam a retroalimentar a inflação. Entenda.

Por Alexandre Versignassi e Guilherme Jacques
19 out 2021, 18h04
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 (Juliana Krauss/VOCÊ S/A)
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O Bolsa Família paga R$ 190 hoje, em média. Para viabilizar-se como candidato à reeleição, Bolsonaro falava em subir para R$ 300, além de mudar o nome do benefício para “Auxílio Brasil”, a fim de criar uma marca própria. 

Já era difícil tentar isso sem furar o teto de gastos – a âncora que evita a quebra das contas públicas (ou, em palavras mais diretas: evita que o Brasil se transforme numa Argentina, com inflação de 40% ao ano, ou numa Venezuela, que nem moeda de verdade tem mais). 

Agora piorou. Com a pesquisa mais recente do Datafolha mostrando que 59% dos brasileiros não votariam nele de jeito nenhum, Bolsonaro pediu truco. Quer o seu Auxílio Brasil em R$ 400, de modo a conquistar os eleitores mais necessitados pelo bolso.

A ideia, de acordo com membros da equipe econômica, é furar o teto de gastos. Há de se criar alguma maquiagem burocrática para dar ares técnicos a tal medida – que, para todos os efeitos práticos, significaria o fim do teto.

E o mercado respondeu como deveria responder: dólar nas alturas, a R$ 5,594, Ibovespa no sétimo círculo do inferno: -3,28, a 110.672 pontos.

Natural. Por causa do seguinte: um governo, a princípio, consegue gastar o quanto quiser. Basta fazer mais dívida – e, em última instância, imprimir dinheiro para pagar essas dívidas (há mecanismos para evitar esse tipo de zona; mas impossível não é).

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Ao gastar demais, o governo pressiona a inflação, simplesmente por jogar mais dinheiro na praça. E a inflação já cruzou a linha vermelha dos dois dígitos – em 12 meses, é de 10,25%. 

Para baixar a inflação, o Banco Central, aumenta os juros, pois este é seu dever como instituição. Isso torna o dinheiro mais caro no mercado de crédito. Começa a fluir menos grana na praça, e a inflação tende a ceder. O efeito colateral, de longo prazo, é que isso esfria a economia (por isso espera-se um crescimento tímido para 2022, de apenas 0,5%). Só que tende a valer a pena.

Mas… se enquanto o BC toma medidas anti-inflacionárias o Poder Executivo faz o oposto, o remédio do aumento de juros perde o efeito. E temos o pior dos mundos: inflação com economia estagnada. Estagflação. 

Numa economia estagflacionária, a única coisa que cresce são os juros da dívida pública, já que o país precisa pagar cada vez mais caro para se endividar. E basta a perspectiva de que isso vá acontecer para que esses juros aumentem. O título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026, por exemplo, passou a pagar hoje 5,22% mais inflação (mais de 15% em rendimento nominal pelos números atuais). Um abuso para um título que vence em meros cinco anos. 

Com o juros lá em cima, a própria dívida vai ficando mais cara. Para pagar, o governo precisa fazer mais dívida, pagando mais caro. Um círculo vicioso que retroalimenta a inflação – ou seja, vai destruindo o próprio valor da moeda. 

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Uma inflação de 10% ao ano, afinal, significa o seguinte: se você tem R$ 100 na carteira, o governo está pegando R$ 10 sem o incômodo de lhe abordar na rua com um revólver. Não existe gasto público grátis, afinal: ao aumentar esse gasto sem critério, cria-se inflação. A inflação corrói o seu poder de compra. E é isso: no fim, é você quem paga. 

Como a perspectiva para a moeda passa a ser de desvalorização aguda, o mercado começa a comprar dólares como se não houvesse amanhã para se proteger. Com a demanda bombada, as notas verdes valorizam. Você passa a precisar de cada vez mais reais para comprar dólares. Como boa parte dos preços ao consumidor é indexada pelo dólar (incluindo o da carne, o do pão e o da gasolina), o IPCA sobe. Mais um alimento para a inflação.

A equipe econômica sabe de tudo isso, por óbvio. Mas ninguém lá dentro, ao que parece, parece ter coragem de dizer ao rei que ele está nu.

Esse papel, hoje, coube ao mercado. A reação catastrófica fez com que o anúncio oficial do Auxílio Brasil de R$ 400, marcado para as 17h de hoje, acabasse adiado, com a nova data ainda indefinida – tão indefinida quanto os rumos que a nossa economia está tomando.

Boa sorte para todos nós.  

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Maiores altas

GetNet (GETT11): 17,88%

Americanas (AMER3): -0,10%

Pão de Açucar (PCAR3): -0,48%

Engie (EGIE3):- 1,04%

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Vale (VALE3): -1,15%

Maiores baixas

Azul (AZUL4): -10,36%

Cielo (CIEL3): -9,20%

Méliuz (CASH3): -8,47%

Grupo Soma (SOMA3): -7,53%

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Gol (GOLL4): -7,39%

Ibovespa: -3,28%, a 110.672 pontos

Nova York

Dow Jones: 0,56%, a 35.457 pontos

S&P 500: 0,74%, a 4.519 pontos

Nasdaq: 0,71%, a 15.129 pontos

Dólar: 1,33%, a R$ 5,5938

Petróleo 

Brent: 0,76%, a US$ 84,97

WTI: 0,47%, a US$ 82,83

Minério de ferro: -0,23%, a US$ 124,04 por tonelada no porto de Qingdao, China 

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