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O rali do final de 2023

Faltando dois meses para o ano passado terminar, a bolsa mantinha-se estagnada. A virada só rolaria em novembro, com sinais de desaquecimento da economia americana. Entenda a força que moveu o Ibovespa para o melhor resultado desde 2019.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 15 jan 2024, 09h52 - Publicado em 12 jan 2024, 06h35
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 (J Studios/Getty Images)
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2%. Esse era o tanto que o Ibovespa tinha subido em 2023 até o dia 30 de outubro. Só dali em diante veio o rali, que faria o índice fechar em alta de 22% – superando pela primeira vez, no penúltimo pregão do ano, a marca de 134 mil pontos.

O que aconteceu? Um surto de otimismo com as metas fiscais do governo? Não. Quem puxou o bonde foram os EUA mesmo. Na primeira semana de novembro, veio uma das grandes notícias do ano: a economia deles estava desaquecendo.

Era o que mostrava o Payroll, relatório mensal sobre o mercado de trabalho americano. Estava lá: em outubro, a taxa de desemprego tinha subido para 3,9% – a maior desde janeiro de 2022. A criação de novas vagas tinha ficado em 150 mil. Era menos da metade do número de setembro (336 mil), e 30 mil abaixo do que o mercado previa. 

Ruim para americanos em busca de emprego. Ótimo para as bolsas. Porque neste momento o mercado global só tem olhos para um fator: quando, e com qual intensidade, o banco central dos EUA vai começar seus cortes nos juros. 

Jerome Powell, o presidente do Fed, já tinha deixado claro que, se o mercado de trabalho seguisse aquecido por lá (como os números de setembro mostravam), a chance de corte num horizonte vislumbrável era zero. Simples: se você baixa os juros com a economia bombando, a chance de que a inflação saia do controle é real. 

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Como o objetivo número zero do Fed é levar a inflação americana de volta ao berço esplêndido dos 2% ao ano, qualquer dado bom sobre o nível de emprego nos EUA vinha como um balde de água fria para o mercado. Deixava claro que todos teriam de conviver por um bom tempo com uma taxa que estava (e ainda está) em seu maior nível desde 2001: 5,5% – um patamar insalubre para as bolsas. Com juros básicos nesse nível, afinal, fica difícil para as ações concorrerem com os títulos públicos. 

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Mas aí chegou o nosso amigo Payroll de outubro, e cresceu a expectativa para um início dos cortes no curto prazo. Semanas depois, para melhorar, veio um bom dado sobre a inflação americana. 

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Os EUA têm dois índices de preços, o CPI, equivalente ao nosso IPCA, e o PCE, que tende a ser mais preciso – se as pessoas passam a comprar mais frango, por exemplo, esse item passa a ter um peso maior na cesta. Também há os “núcleos” do CPI e do PCE – eles excluem do índice os preços de alimentos e energia (incluindo combustíveis), que respondem mais ao clima e ao cenário geopolítico do que a taxas de juros. 

Para o Fed, então, o índice mais importante é o núcleo do PCE. É este que o BC americano pretende baixar para 2%. 

E em outubro ele veio em 3,4% (na comparação anual), confirmando uma tendência de queda que vinha desde agosto, quando o núcleo do PCE fechou abaixo de 4% pela primeira vez em dois anos (3,7%). 

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No dia 14 de dezembro, mais uma notícia positiva. A cada três meses, os diretores do Fed divulgam suas previsões para o futuro dos juros num documento conhecido como “Dot Plot”. No de setembro, a mediana das estimativas apontava para juros a 5,1% ao final de 2024. O mercado torceu o nariz – isso indicava que praticamente não haveria corte neste ano. Mas aí saiu o Dot Plot de dezembro, com uma nova previsão, mais branda: 4,6% ao final deste ano. Not so bad… 

No dia 22, veio a cereja do bolo: o PCE de novembro. Mais uma queda, agora para 3,2%. Era o que faltava para mais um gás nas bolsas. Com o sprint final nos estertores de dezembro, o S&P 500 terminaria o ano em alta de 24%. E o Ibovespa pegou a carona, fechando naqueles 22% – o melhor desempenho desde 2019. 

E agora, o que 2024 reserva? É o que a repórter Camila Barros mostra aqui. Boa leitura, e ótimo ano.  

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