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Os três desafios da Oi após a recuperação, segundo o CEO da companhia

Rodrigo Abreu, presidente da Oi, conta o que falta para a reabilitação completa e o que espera para as ações da companhia.

Por Tássia Kastner
15 out 2021, 05h41
presidente da oi sorri para a câmera. Veste paletó sem gravada e posa descontraído.
 (Carlos Pedretti/VOCÊ S/A)
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Oi tem 1,3 milhão de investidores pessoa física. É a segunda com mais acionistas na bolsa, atrás apenas da Vivo. É como se, a cada quatro pessoas com ação na bolsa, uma investisse na companhia. Não à toa, há muita gente acompanhando de perto a reestruturação da operadora.

O ciclo está perto do fim, de acordo com o presidente Rodrigo Abreu. O plano de recuperação envolve a venda de atividades menos rentáveis, caso da telefonia móvel, e o investimento maciço em fibra óptica, para a expansão do serviço de banda larga. E, claro: buscar alguma solução para o dinossauro da telefonia fixa de cobre, uma herança da concessão de serviços da época das privatizações.

“Era impossível manter a empresa fazendo exatamente as mesmas coisas de antes, porque o resultado seria o mesmo. A gente iria entrar em uma situação de insustentabilidade novamente”, explica.

Um dos planos menos compreendidos, segundo Rodrigo, é justamente a operação de fibra. A infraestrutura de rede foi separada em uma nova empresa, chamada de V.tal. Acontece que a Oi vendeu 58% dessa empresa para o BTG Pactual. Segundo o CEO, com um sócio, a nova empresa terá uma capacidade de crescimento multiplicada.

“Se mantivéssemos a operação de infraestrutura dentro da Oi, ela não se valorizaria do mesmo jeito porque eu não teria condições de investir os R$ 30 bilhões que a V.tal vai desembolsar ao longo dos próximos cinco anos”, justifica.

Nesta entrevista, Rodrigo explica os próximos passos da companhia e diz o que, na sua opinião, falta para as ações subirem de forma consistente.

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A ação da Oi ainda é uma penny stock [papel de valor baixíssimo] apesar de a empresa já ter avançado na sua recuperação. Por quê?
A gente precisa entender o percurso todo da empresa de 2016 para cá, quando ela entrou em recuperação judicial. É óbvio que a negociação das ações sofreu uma desvalorização gigantesca enquanto a empresa ficou discutindo o seu plano de recuperação. Foram dois anos, e ele saiu no começo de 2018.

Duas grandes coisas que aconteceram no plano de recuperação original. Uma delas foi o alívio de curtíssimo prazo nas dívidas, mas o principal foi a mudança da governança. A Oi passou a ser uma empresa sem controlador com um conselho completamente independente, e aí a empresa começou a desenhar seu projeto de longo prazo.

O que mudou no plano original?

Eu entrei na companhia como conselheiro nesse final de 2018, quando começamos a fazer uma análise muito profunda de todas as operações, segregando o que era a operação móvel, telefonia fixa, banda larga de cobre, TV por assinatura satélite, a operação B2B e todos os componentes que a empresa tinha naquele momento.

Era impossível manter a empresa fazendo exatamente as mesmas coisas de antes, porque o resultado seria o mesmo. A gente iria entrar em uma situação de insustentabilidade novamente. Começou-se a traçar o novo plano estratégico, para focar naquilo que efetivamente a companhia tinha de diferencial competitivo para virar novamente líder de mercado. Isso era a fibra. Curiosamente, a gente estava apenas começando com o negócio de fibra para o consumidor.

Por que esse virou o foco da empresa?

Porque o diferencial da companhia era a infraestrutura de fibra óptica espalhada pelo país inteiro, apesar de ter naquela época um número de usuários muito baixo. A virada tecnológica na banda larga, com a migração do cobre e do cabo coaxial para a fibra, estava só começando, mas a extensão de fibra que a Oi tinha naquele momento era mais que o dobro da segunda maior operadora. Começamos a traçar um plano de investimentos muito significativos na fibra.

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Na telefonia móvel, a Oi era a quarta operadora, apesar dos mais de 30 milhões de usuários, e vinha de anos com investimento abaixo da média do mercado. Já o negócio da telefonia fixa, que foi a maior fonte de receita da Oi ao longo do tempo, começou a se deteriorar muito rapidamente. O ritmo de decrescimento do mercado é de 35% a 40% ao ano. Se nós não fizéssemos nada para substituir aquela queda de receita, a companhia deixaria de ser sustentável.

Era necessário investir. Telecom é um setor de infraestrutura, de capital intensivo. Se você não investe, perde competitividade e morre lentamente. Então, precisava ser criado um plano que viabilizasse investimento em algo que iria crescer muito, que compensasse uma receita que ia descer muito.
Foi aí que veio a decisão de venda da operação móvel. Isso traria recursos significativos para que a gente continuasse a investir na fibra e, ao mesmo tempo, suportasse esse período de transição, no qual a companhia ainda não gera um resultado positivo.

Como você acha que isso explica a oscilação nas ações?

Muita gente olhava a base de ativos da Oi e entendia que, se houvesse um plano, a empresa deveria ter um potencial muito maior que o valor de mercado. Vários analistas concordaram. Lá no meio de 2019, a empresa estava cotada a cerca de 70 centavos. Depois que esse plano começou a ser posto em execução, a ação se valorizou muito. Ela ainda sofre com volatilidade, mas o papel passou de R$ 2 e depois passou a cair com a pandemia. Hoje, está cotado a um nível que a gente não acha que faça justiça ao valor da empresa, mas ainda é 30%, 40% acima do que lá no início desse processo.

Exatamente o que foi vendido da empresa?

São quatro vendas integrais. A unidade de torres de celular, por mais de R$ 1 bilhão, data centers, por R$ 325 milhões, já recebidos. A terceira era a operação de telefonia móvel, que recebeu a proposta de R$ 16,5 bilhões das três operadoras (Vivo, Claro e TIM). Essa venda foi assinada, mas está em processo de aprovação regulatória do Cade e da Anatel. Esperamos receber os recursos até o primeiro trimestre do ano que vem. A unidade de TV por assinatura a satélite é a única para a qual a gente não anunciou nenhuma operação.

O que sobra, então?

Foi criada uma empresa separada, chamada V.tal, que concentra a infraestrutura de fibra. A Oi vai ficar com 42% dessa empresa e deixará de ser controladora. O novo sócio controlador, que é o BTG, poderá fazer muito mais investimentos do que a Oi. Segregada, a empresa tem muito mais condições de crescer e investir.

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Essa empresa foi avaliada em R$ 20 bilhões. O crescimento vai nos levar, dentro de três a quatro anos, a uma operação de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões. Eu ganho R$ 15 bilhões em valor de mercado para a companhia. Mas, se mantivéssemos a operação de infraestrutura dentro da Oi, ela não se valorizaria do mesmo jeito porque eu não teria condições de investir os R$ 30 bilhões que a V.tal vai desembolsar ao longo dos próximos cinco anos.

Uma vez que a gente complete todos os processos, a Oi vai estar dividida em duas grandes empresas: a Nova Oi, que continua com a banda larga residencial de fibra, com a telefonia fixa de cobre, com a banda larga de cobre, com os serviços empresariais, com as soluções corporativas, TV e IPTV, e a V.tal.

Qual é o plano da companhia para a rede de cobre?

Essa é uma obrigação regulatória. Quando a empresa foi criada lá atrás [na privatização], virou a maior concessionária de telefonia fixa do Brasil. A concessão acaba em 2025. Ao longo do tempo, como a regulamentação não foi atualizada, a concessão foi perdendo atratividade e virou insustentável, mas a Oi é obrigada a manter uma operação deficitária.

Estamos trabalhando em duas esferas. A primeira é com a Anatel, para botar de pé uma das mudanças feitas na Lei Geral de Telecomunicações, de 2019, que permite migrar concessões para autorizações. Isso reduz os custos dessa operação.

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A outra é um processo de arbitragem que instauramos contra a agência por acreditarmos que há bastante tempo a concessão é insustentável. A gente disputa valores bilionários para garantir que a migração da concessão para a autorização aconteça sem ônus e também que a Oi seja elegível a compensações financeiras. Elas seriam usadas, por exemplo, para abater multas da Anatel que ainda existem e algumas obrigações federais.
Até o final do ano que vem, a gente espera uma visão mais clara da migração. O processo arbitral deve levar de 18 a 24 meses.

A Oi disse que não entrará no leilão de 5G. A companhia não vai ficar de novo para trás?

Não. Não existe 5G sem fibra. A rede para fazer as antenas do 5G funcionarem precisa de fibra. Do ponto de vista da conectividade, o 5G vai ampliar a conexão dos dispositivos, sejam smartphones, os IOT [internet das coisas, na sigla em inglês], carros, máquinas, mineração. No entanto, isso complementa a necessidade de conectividade fixa para residência, empresa, datacenters, todo o resto que não vai ser servido por 5G, mas por fibra. O custo por gigabit do 5G é mais caro, então não tem como dizer “não vou mais ter banda larga fibra, vou ter só 5G”.

E não faz sentido entrar nesse momento no leilão para prestar serviços móveis, porque estamos vendendo a operação móvel. Como em qualquer operação dessa natureza, existe um acordo de não competição. Mas não se descarta a participação nossa ou da V.tal para o espectro de 26 GHz, que será usado para soluções fixas.

A empresa diz que está perto de concluir seu plano de recuperação. Por que as ações ainda estão deprimidas?

Primeiro, é preciso completar as vendas [da Oi móvel e da participação da V.tal]. Pode ser que ainda exista alguma visão de risco dos investidores em relação à aprovação, principalmente a venda da área móvel. Se ela fosse reprovada, haveria um impacto muito negativo. Do nosso ponto de vista, é uma aprovação muito provável pelos reguladores, porque ela foi feita para evitar a concentração de mercado. Em paralelo, tem o processo de venda do controle da infraestrutura, que deve acabar até o primeiro trimestre de 2022. Uma vez que esses dois processos tenham sido concluídos, a empresa pode sair da recuperação judicial, até o final do primeiro trimestre de 2022.

Isso por si só permite uma valorização da empresa, porque hoje vários fundos estrangeiros, soberanos e de pensão não podem investir em empresas em recuperação.

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Depois, a gente passa a ter três desafios: um deles é crescer a receita, e o plano é chegar a 8 milhões ou 9 milhões de usuários de fibra – vamos terminar o ano com 4 milhões. O segundo é um processo de diminuição de custos. Depois que eu vendo a operação móvel e não tenho mais a infraestrutura dentro de casa, tenho que ter uma empresa mais enxuta. E o terceiro é resolver a concessão da telefonia fixa, sem prejuízo para a Oi. Uma vez concluída essa fase, a empresa poderá ter uma redução de percepção de risco.

Hoje o valor de mercado da companhia na bolsa é de mais ou menos R$ 7 bilhões. Muito baixo. Só o potencial da participação na V.tal, a gente avalia em R$ 20 bilhões.

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