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Powell diz que a Terra é redonda. Mercado discorda, senta e chora

Presidente do Fed afirma o óbvio: seguirá firme com as altas nos juros para combater a inflação americana – que já ultrapassou a brasileira em 2022 (veja em quanto). E as bolsas tombam.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 26 ago 2022, 17h31 - Publicado em 26 ago 2022, 14h05
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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“Restaurar a estabilidade nos preços provavelmente requer a manutenção de uma política restritiva por algum tempo”, disse Jerome Powell, presidente do banco central americano, hoje no Simpósio de Jackson Hole. “O registro histórico depõe fortemente contra uma política de afrouxamento prematura”. 

O jurista e cientista político à frente do Fed desde 2018 disse, com palavras bonitas, o óbvio. Em linguagem de rua, poderia ter dito: “Não vamos deixar os juros no chão enquanto a inflação estiver na Lua”. 

Sim, porque os juros nos EUA ainda estão baixos. Para ver isso, basta fazer como Powell e examinar o registro histórico (voltamos a esse ponto mais adiante).

Mas o fato é que o mercado não gostou. Tombo de -3,37% no S&P 500, e de -1,09% no Ibovespa (+0,72% no cômputo da semana). 

Não que o mercado tenha de gostar ou desgostar de qualquer fala do Fed. Os objetivos da instituição, tal qual o de qualquer outro Banco Central, afinal, são: 

  1. Manter o valor da moeda, ou seja, promover estabilidade nos preços
  2. Promover estabilidade nos preços, mantendo o valor da moeda

Sim. As duas frases querem dizer a mesma coisa. Também cabe aos Bancos Centrais promover o crescimento econômico e o pleno emprego, via juros baixos. Mas esse objetivo só existe quando há segurança acerca da manutenção do valor da moeda. E neste momento não há.

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Inflação 2022: EUA 5,29% X 4,77% Brasil

Pois é. A inflação deles em 2022 é maior até do que a do Brasil, um país bem mais habituado a taxas rechonchudas. São 5,29% de janeiro a julho por lá, versus 4,77% aqui – sim, em 12 meses nossa taxa é maior, Brasil 10,07% X 8,5% EUA. Mas o fato é que as inflações dos dois países raramente se cruzam nas esquinas das estatísticas históricas. 

De 1914 para cá, a inflação média nos EUA foi de 3,28%. A do real (nascido em 1994) é de 7,21%. 

Ao longo da história, os EUA nunca fecharam um ano registrando uma inflação maior do que a nossa. O mais perto que os dois índices já estiveram desde o Big Bang foi em 2007: 4,25% lá versus 4,45% aqui. 

A história dos juros

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Powell falou no “registro histórico” para justificar sua política de juros. Vamos a ele. Neste momento, os juros americanos estão em 2,50%

É pouco. 

Trata-se de uma taxa equivalente à de 2004, quando a inflação americana fechou em 3,3%. Já era uma inflação forte para os padrões americanos, então os juros seguiram subindo até 2006, para 5,25%. E nesse ano a inflação baixou, para 2,5%. 

Então o Fed afrouxou, reduzindo os juros em um ponto percentual em 2007. E o que aconteceu com a inflação? Subiu quase dois pontos percentuais, para 4,1%. 

Não dá para dar trégua. A real é que, na última vez em que a inflação americana ficou acima de dois dígitos, os juros do Fed chegaram a esse patamar. A ver:

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Ano        Inflação   Taxa do Fed

1979      13,3%      12%

1980      12,5%      18%

1981      8,9%        12%

1982      3,8%         8,5%

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Ou seja: não há milagre. Inflação alta se combate com juro alto. Quer o mercado queira, quer não.

Lá como cá: deflação em julho no PCE

Seja como for, a inflação americana deu um alento. É o que diz um índice divulgado nesta manhã, o PCE (personal consumer expenditures, ou “despesas de consumo pessoal”). 

A diferença em relação ao índice mais usado, o CPI (“índice de preços ao consumidor”, o “IPCA” deles) está na fórmula. PCE contabiliza “substituições”. Por exemplo: se a carne vermelha subiu demais e as pessoas passaram a comprar frango no lugar, esse índice vai dar mais peso para o preço do frango. Já o CPI é mais lento para apurar mudanças nos hábitos de consumo. Por conta dessa sofisticação, o PCE é o índice favorito do Fed na hora de examinar a quanto anda a inflação.

E temos que houve uma deflação no índice em julho, veja só. Ele varou -0,1% no mês, desacelerando forte ante o 1% de juhho – e batendo as previsões do mercado, que apontavam para uma nova alta de 1%. 

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Lá, como cá, quem puxou a queda dos combustíveis. Eles são os principais componentes  do ítem “energia”, que abriga também a conta de luz, e caiu 4,8%. E os vilões da alta foram os alimentos: alta de 1,3%. 

Nos últimos 12 meses, o PCE recuou de 6,8% para 6,3%. Já o “núcleo do PCE”, que exclui energia e alimentos (mais voláteis) subiu, mas pouco: 0,1%, contra uma expectativa de 0,3%.  

A ver se essa desaceleração vai ou não amolecer o coração do Fed. 

Bom fim de semana.

 

Maiores altasAlpargatas (ALPA4): 7,37%

Pão de Açúcar (PCAR3): 3,22%

Cielo (CIEL3): 1,55%

SLC Agrícola (SLCE3): 0,94% 

Prio (PRIO3): 0,87%

Maiores baixas

Natura (NTCO3): -6,61% 

Usiminas (USIM5): -6,35%

CSN (CSNA3): -5,89%

Azul (AZUL4): -4,72%

Totvs (TOTS3): -4,17%

 

Ibovespa: -1,09%, a 112.298 pontos

Em NY:

S&P 500: -3,37%, a 4.057pontos

Nasdaq: -3,94%, a 12.965 pontos

Dow Jones: -3,03%, a 34.000 pontos

Dólar: -0,67%, a R$ 5,07

Petróleo

Brent: 0,56%, a US$ 99,01

WTI: 0,58%, a US$ 93,06

Minério de ferro: 3,01%, a US$ 107,11 a tonelada, na bolsa de Dalian

  

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