Quem não tem petróleo caça com minério de ferro
Atividade industrial na China registra a maior expansão desde 2012. Minério acorda em alta de 2,42%. No ano, a alta já é de 10%, versus queda de 3% do petróleo – cujos produtores nacionais agora sofrem com o imposto de exportação.
Nesta manhã, a notícia mais importante para a bolsa não vem de Brasília, mas da China. O índice PMI local, que mede a expansão (ou retração) da atividade industrial veio pegando fogo: saltou de 49,2 pontos em janeiro para 52,6 em fevereiro.
Traduzindo: nesse índice, qualquer coisa abaixo do número “50” significa retração. Acima de 50, expansão. Esses 52,6 de agora representam simplesmente o melhor resultado desde 2012. E trata-se da primeira expansão em sete meses.
Tem mais. Um estudo feito pela BloombergNEF e pelo Baidu (o “Google Chinês”) mostra que a quantidade de pessoas no metrô Pequim, Xangai e outras grandes cidades da China está igual ou maior do que no pré-pandemia – numa outra amostra de que a recuperação após o fim da política de Covid Zero corre a todo vapor.
Com a divulgação do PMI, enfim, a bolsa de Hong Kong fechou numa alta espetacular, de 4,21%. O CSI 300, das bolsas de Xangai e Shenzhen, em 1,71%. O minério de ferro acompanhou, naturalmente: alta de 2,42%.
No ano, a alta é de 10%, contra queda de 3% no petróleo. Negociado a US$ 83,07, o Brent está em seu menor nível desde novembro de 2022, uma data bem anterior à da invasão da Ucrânia. Momento ruim para as petroleiras.
A lógica da reoneração
Não é só o barril desvalorizado que incomoda o setor por aqui, você sabe. O imposto sobre exportação de petróleo, anunciado ontem por Haddad, derrubou os papéis de Petrobras (-3,5%), PetroRio (-9%) e 3R (-7%) – as duas últimas sofrem mais por serem basicamente exportadoras de óleo cru, enquanto a Petrobras também refina (e acabou reduzindo o preço da gasolina com menos intensidade do que o governo gostaria, como Haddad deu a entender.
O imposto sobre a exportação é de 9,2% e vai durar quatro meses. A ideia é arrecadar R$ 6,6 bilhões, para compensar a reoneração mais branda da gasolina e do etanol. O combustível fóssil volta a ter um imposto de R$ 0,47 por litro (antes da desoneração que vigorava desde o ano passado, eram R$ 0,69%). O etanol, que tinha um imposto de R$ 0,24% lá atrás, passa a carregar uma oneração quase simbólica, de R$ 0,02% (bom para as produtoras do combustível).
Esse ponto é uma medida lógica: incentiva o uso de um combustivel que, além de liberar uma carga menor de CO2, é 100% produzido no Brasil, e compatível com a imensa maioria dos veículos em circulação. Ou seja, com um etanol mais barato, o consumo de gasolina cai. E a influência dela na inflação também. O diesel segue desonerado – o que acontece desde 2021. Igualmente lógico: taxar o combustível dos caminhões seria injetar inflação na veia da economia.
A quixotesca cruzada anti-juros
O que não teve lógica alguma foi Haddad aproveitar a coletiva sobre o anúncio da reoneração e dos impostos sobre a exportação de petróleo para agradar seu chefe. O ministro da economia disse que as medidas estavam sendo tomadas “inclusive porque na ata do Banco Central está escrito que elas abrem espaço para a queda da taxa de juros”.
Tudo bem o governo defender juros mais baixos. Acontece em todos os países com banco central independente – nos quais a presidência do BC tem mandato fixo, não coincidente com as eleições majoritárias. O problema é que isso traz à tona outra preocupação: a de que, ao fim do mandato de Roberto Campos Neto, o governo coloque um parvo na presidência da autarquia. Alguém que maneje os juros seguindo exclusivamente a palavra de Lula.
Já vimos algo parecido acontecer – entre 2011 e 2013, quando o governo Dilma, sem BC independente, decidiu baixar os juros num momento de inflação em alta.
A conta veio mais tarde, na forma de inflação de dois dígitos, juros em 14,5% (porque uma hora eles acabam subindo para conter a sangria) e a maior recessão da nossa história, no biênio 2015-2016.
É por isso que os juros futuros foram às alturas com as notícias de ontem. Resultado: as taxas dos títulos públicos de inflação voltaram a bombar, com o IPCA+2035 pagando 6,42% de juro real.
Mais um gol involuntário do governo a favor do “rentismo”, e contra os investimentos em atividades produtivas. Porque só se investe em atividades produtivas onde há confiança em relação ao futuro.Tudo o que não temos por aqui.
Bons negócios.
S&P 500: 0,37%
Nasdaq: 0,53%
Dow Jones: 0,26%
*às 8h39
O prejuízo do GPA
Depois do fechamento do mercado na segunda-feira, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) divulgou seus resultados do quarto trimestre de 2022: prejuízo de R$ 1,1 bilhão, contra lucro de R$ 777 milhões um ano antes. Segundo a companhia, o resultado muito aquém das expectativas foi fruto de provisões atípicas: foram reservados R$ 309 milhões para pagar demandas trabalhistas e outros R$ 580 milhões para impostos (CSLL e ICMS).
Excluindo esses dois fatores não recorrentes, o prejuízo teria sido de R$ 146 milhões – valor que continuaria muito abaixo do desempenho do ano anterior. Por isso, as ações PCAR3 fecharam em queda de 7,16% na terça, a R$ 15,54.
EUA, 11h45: PMI, o índice de expansão ou contração da indústria, em fevereiro.
EUA, 12h30: Estoques de petróleo até a semana passada
Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,86%
Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,93%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,73%
Bolsa de Paris (CAC): 0,79%
*às 8h45
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 1,71%
Hong Kong (Hang Seng): 4,21%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,26%
Brent: -0,38% a US$ 83,07 o barril
*às 7h20
Minério de ferro: 2,42%, a US$ 132,11 a tonelada, na bolsa de Dalian
*às 7h00
Salário vs. inflação
Em 2022, o salário nos países desenvolvidos cresceu mais do que nos dois anos anteriores. Ainda assim, não foi o suficiente para bater a inflação, de acordo com um relatório da International Labour Organization. É uma má notícia para os consumidores, que perderam poder de compra. Mas trata-se de uma boa notícia para os bancos centrais: com salários mais altos, as pessoas gastam mais. Aí, com mais dinheiro em circulação, a inflação ganha força – e o esforço das instituições em baixá-la não surte efeito. Esta reportagem do WSJ mostra qual foi a perda real dos salários na América do Norte e Europa, e o que isso pode significar para este ano.
Cláusula 9, artigo 16
No estatuto da Americanas, a cláusula 9 do artigo 16 estabelece que o conselho de administração deve autorizar qualquer mudança na forma de registrar os dados financeiros da companhia. Para os credores, essa pode ser a prova de que o corpo de conselheiros (que inclui Beto Sicupira, um dos três acionistas de referência) sabiam do rombo – e que são culpados pelas “inconsistências contábeis” da varejista. Já a defesa da Americanas pretende usar a mesma cláusula para provar o oposto. A coluna de Malu Gaspar no O Globo explica.
Antes da abertura de mercado: Gerdau.
Depois do fechamento: Petrobras, PetroRio e Marfrig.