Teto dos juros em 12,75% está praticamente furado. E agora?
O último ciclo de alta só estabilizou-se em 14,25%, e foi para combater uma inflação mais suave que a de hoje.
Marx disse que a história se repete: na primeira vez um fato aconteceria como tragédia; na segunda, como farsa. Ele se referia ao golpe de Estado que Napoleão III lançou mão para assumir o poder na França em 1851 – uma “farsa” que copiava uma “tragédia”: o golpe do Napoleão original em 1799.
Na economia a história também se repete. Mas só de se repetir mesmo – sem farsa, ainda que com tragédia.
A última escalada da inflação, antes desta de agora, teve seu pico em janeiro de 2016, quando a inflação em 12 meses contabilizou 10,70%. Para combatê-la, os juros chegaram a 14,25% – patamar no qual se mantiveram por longos 13 meses.
A de agora ultrapassou a mais recente na última sexta: o IPCA em 12 meses para março fechou em 11,30%. Os juros, você sabe, estão em 11,75%, e o BC avisou que vai passar para 12,75% em maio.
O mercado deu de barato que Roberto Campos Neto e sua turma parariam por aí. Ficaríamos nos tais 12,75% por um bom tempo, sentados na varanda esperando a inflação cair. Mas essa ilusão está acabando.
O presidente do BC disse ontem numa videoconferência que o repique da inflação em março “foi uma surpresa”. Bastou para que a esperança de estabilização na curva de juros em 12,75% caísse por terra.
Um reflexo bem prático disso aparece nos juros do Tesouro Direto. Na última semana de março os juros reais (acima da inflação) do IPCA+2026 tinham caído para 4,95%. Ontem, estavam a 5,30%. Uma amostra de espera-se juros mais elevados, por mais tempo.
Da última vez, o limite desse céu ficou em 14,25%, contra uma inflação menor que a de hoje. Ou seja: o final da curva deste momento da história talvez esteja mais longe do que a vista alcança.
Hoje sai mais um fator que serve de combustível para os juros daqui: a inflação dos EUA para março (o anúncio é às 9h30). Quanto mais a inflação sobe por lá, maior a pressão de alta para os juros deles. E quanto maior os juros lá fora, maior a tendência de alta para os juros daqui. A Selic, afinal, também serve para baixar o dólar – e se os juros do dólar subirem demais sem que os do real acompanhem, a moeda americana fica mais cara. A queda recente rolou em grande parte por conta da distância entre os nossos juros (em 11,75%) e os deles (em 0,50%). Se essa distância diminui, o dólar sobe, pressionando a inflação daqui.
Vejamos, então, o que acontece agora às 9h30.
Bom dia
Futuros S&P 500: 0,10%
Futuros Nasdaq: 0,22%
Futuros Dow: 0,05%
*às 7h55
Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,73%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,52%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -1,09%
Bolsa de Paris (CAC): -0,77%
*às 7h45
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 1,95%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -1,81%
Hong Kong (Hang Seng): 0,52%
Brent: 4,38%, a US$ 102,79
Minério de ferro: 2,62%, US$ 155,75 em Cingapura
*às 7h45
09h O IBGE divulga a Pesquisa Mensal de Serviços referente ao mês de fevereiro.
09h30 Nos EUA, sai o Índice de Preços ao Consumidor (o IPCA deles) de março.
Em 2021, a Vale e a Petrobras pagaram, juntas, R$ 146 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) – foram R$ 73,3 bilhões da mineradora e R$ 72,7 bilhões da Petro. De acordo com um estudo da consultoria Economatica, o valor é maior que o total de R$ 145,2 bilhões em proventos distribuídos pelas outras 226 empresas que também anunciaram pagamentos. Depois das gigantes do Ibovespa, que representam 27,8% das ações negociadas na bolsa, estão a Ambev (R$ 11,1 bilhões), Santander (R$ 10 bilhões), Bradesco (R$ 9,9 bilhões) e JBS (R$ 7,4 bilhões) como maiores pagadores de dividendos.
Investimento
Jeff Bezos fez um aporte na fintech brasileira Stark Bank. A startup – inspirada no personagem Tony Stark , o Homem de Ferro – recebeu S$ 45 milhões numa rodada liderada pela gestora de fundos americana Ribbit Capital e pela Bezos Expeditions, fundo de investimentos pessoais do fundador da Amazon. É a primeira vez que Bezos investe em uma empresa brasileira através do seu fundo pessoal, embora já tenha apostado na América Latina antes. Em 2019, ele investiu na NotCo, um unicórnio chileno de alimentos feitos à base de plantas.
Greenwashing
Os consumidores estão cada vez mais atentos às práticas ESG das empresas e os danos à reputação podem ser graves para as marcas que insistirem no greenwashing – termo para quando fica claro que as aspirações verdes de alguma empresa são 100% de estratégia de marketing, e 0% de comprometimento real. É o que diz Maurice Lévy, ex-presidente mundial do Publicis Groupe, terceira maior agência de publicidade e relações públicas do mundo. Em entrevista para o Valor Econômico, o executivo também fala dos desafios da indústria publicitária em períodos de alta volatilidade, como agora. Leia aqui.