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Vale a pena comprar ações da Prio (PRIO3)?

A ação da petroleira se tornou uma espécie de unanimidade – tão recomendada quanto a Vale. Só que depois de uma valorização de 28 mil por cento em sete anos, fica difícil acreditar que ela continuará no mesmo ritmo. Veja o que está por trás da alta fenomenal, e se ainda vale a pena comprar PRIO3.

Por Tássia Kastner
10 fev 2023, 05h00
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 (PRIO/Divulgação)
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Quando a calculadora mostra que uma ação se valorizou 28.344% (repita em voz alta: vinte oito mil trezentos e quarenta e quatro por cento), você imediatamente duvida da máquina. Faz de novo a conta, e descobre que isso significa mais que dobrar o investimento todos os anos, por sete anos. R$ 1.000 investidos em 2016 virariam R$ 2.242 em 2017, R$ 5.025 em 2018,  R$ 11.264 em 2019. E segue o baile até converter aqueles R$ 1.000 do passado em R$ 284,3 mil em 2023. Talvez nem Jesus tenha multiplicado pães e peixes como a Prio (ex-PetroRio, ex-HRT) fez com o dinheiro dos seus acionistas. 

Quem frequentou os home brokers nos últimos anos viu uma parte do fenômeno. Em 2020, a empresa entrou no Ibovespa, o clube das ações mais sólidas e negociadas da bolsa, e, finalmente, as altas espetaculares chegaram aos olhos do grosso dos investidores. Desde então, ela figurou no ranking das maiores altas do Ibov. Estava lá em 2020 (3º lugar, +112%), 2021 (5º lugar, +47%) e 2022 (2º lugar, +78%).

Neste começo de 2023, a PRIO3 é tão recomendada quanto a da Vale, a maior empresa da bolsa. Só que foguetes têm se mostrado, via de regra, perigosos. Nos últimos anos, investidores se acostumaram com ações meteóricas. Teslas, Magalus, Inters, todas empresas aclamadas como negócios altamente disruptivos, cujo crescimento se daria por anos a fio. Em comum, essas ações bateram num teto e de lá derretem até 90% – algo que deixou no prejuízo muita gente que chegou tarde para a festa. Daí a pergunta: a Prio terá uma história diferente? 

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Não-tech

A Prio não é tech, ou seja, não oferece a possibilidade de aumentos exponenciais de receita num piscar de olhos – e não é exatamente disruptiva. Trata-se de uma petroleira, uma concorrente da Petrobras. E tem uma história cheia de curvas. 

Tudo começa nos anos 2000, a década de ouro das commodities. Quando em 2006 a Petrobras descobriu o pré-sal, a fonte “inesgotável” do combustível, o preço do barril tinha subido 189%. Havia terminado 1999 em US$ 20 e bateu US$ 58 em julho de 2006.  E assim continuou numa subida non-stop até o recorde de US$ 146 atingido em julho de 2008 (alta de 630%). 

O potencial de fazer dinheiro com petróleo era tão grande que empresas privadas começaram a chegar ao setor. Aqui entram a OGX, do então bilionário Eike Batista, e, mais tarde, a HRT, que anos a frente viria a se transformar na PetroRio e então na Prio. Elas nasceram de forma semelhante: captaram dinheiro de investidores na base da promessa. Eram negócios pré-operacionais. 

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A grana seria usada para explorar os poços de petróleo com o objetivo de descobrir se eles eram viáveis, ou seja, se tinham suco de dinossauro em quantidade suficiente para justificar a instalação de poços. 

Trata-se de uma aposta arriscada, que demanda bilhões em investimentos. É um negócio de capital intensivo. Não à toa as grandes petroleiras do mundo são realmente gigantes e com muito dinheiro em caixa. Assim, dá para perder capital tentando perfurar um poço errado. Outros tantos vão vingar, e no fim a conta fecha.

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Quando o assunto é uma empresa em início de carreira, a coisa é diferente. Há menos espaço para erros. E bota erro nisso. A HRT captou R$ 2,5 bilhões em uma oferta de ações na bolsa, realizada em 2010, e queimou a grana tentando tirar petróleo de poços secos. O dinheiro foi sumindo do caixa sem que a empresa tivesse conseguido explorar petróleo. Não adianta o preço do barril estar em patamar recorde se a companhia não tem o que vender. 

Na estreia, o plano dizia que a companhia estaria produzindo 28 milhões de barris em 2013. A primeira carga, de 233 mil barris, foi extraída e vendida só no começo de 2014.

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Para piorar, o próprio Brent foi despencando na esteira da crise econômica global e da estabilização do crescimento da China no patamar de um dígito. No fim, aquela aposta megalomaníaca havia virado um pepino. 

É nesse ponto da história que os Tanure entram na jogada. Nelson Tanure (o pai) é um polêmico investidor que fez fama por tomar de assalto companhias em crise para tentar transformar o negócio. Passou pela Oi e hoje é controlador da Alliar e da Gafisa, além de ter a Prio no portfólio.

Ele faz isso comprando ações na bolsa até ter participação o bastante para começar a influenciar nas decisões estratégicas da companhia. Não precisa ser uma tonelada delas: no caso da Prio, Tanure chegou perto dos 20% e hoje tem 14,53% de participação. Formalmente, não é controlador, mas é o maior acionista individual e acaba cumprindo o papel de manda-chuva.

Depois de virar referência para a Prio, ele conseguiu trocar o conselho de administração e entregar o comando da empresa para o filho, Nelson Queiroz Tanure. E é aqui que começa a história da Prio que a gente conhece hoje.

Quando Tanure filho entra na companhia, o foco muda. Em vez de continuar tentando explorar novos poços de petróleo, a Prio passa a comprar de grandes petroleiras campos comprovadamente viáveis, mas com baixa eficiência operacional – ou seja, cuja produção não compensava para as gigantes, com suas folhas de pagamento infladas, mas que podia valer a pena para uma empresa menor, mais enxuta. Isso mais estratégias para reduzir o custo de extração por barril nesses poços fariam a conta fechar. 

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A redução do custo operacional é crucial para fazer frente aos ciclos de baixa do preço do petróleo. Em 2016, quando a produção da Prio finalmente começava a deslanchar, o petróleo chegou a ser negociado abaixo de US$ 30. O problema é que o custo da Prio para tirar o óleo do fundo do mar (chamado de lifting cost) também estava ao redor de US$ 30. Não compensava. Não à toa, a maior desvalorização da ação da Prio se deu nessa época. 

Como comparação, em 2016 a Petrobras também atravessava uma crise financeira e o seu valor de mercado mais baixo da história, resultado de um combo da queda do preço do petróleo com as consequências da má administração e da crise causada pela Lava Jato. Mas o custo para retirar o petróleo dos poços era de US$ 10 por barril. Daí por que o custo baixo, no negócio de petróleo, é tão estratégico. A estatal ainda era viável, tanto que a recuperação ocorreu.

Do lado da Prio, foi o combo redução de custos de exploração, mais aumento da produção e subida do preço do barril, que fez da empresa o fenômeno recente da B3.

Equação perfeita

Hoje a Prio tem lifting cost de US$ 9,50; o da Petrobras está em US$ 5,85, o que indica um gap brutalmente menor que o do passado. Ou seja, a Prio começa a ser competitiva, como se propôs.

Ela extrai sua produção de três campos de petróleo, o Frade (que responde por 57% da receita da empresa), o Polvo e o Tubarão-Martelo, que são unificados em um “cluster” e, juntos, respondem por 42% do faturamento. Essa unificação de campos geograficamente próximos foi uma das alternativas para reduzir custos de operação – parte da estrutura de um campo é aproveitada pelo poço vizinho, reduzindo a quantidade de equipamento necessária.

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Os três campos produziram 45,8 mil barris de petróleo (boe) por dia no terceiro trimestre do ano passado, uma alta de 45% em 12 meses, em parte por investimentos na produtividade de Frade, em linha com a história de pegar campos já maduros e torná-los mais produtivos.

Agora, a expectativa é que novos saltos de produção ocorram quando os campos de Wahoo e Albacora Leste entrarem em operação. Wahoo deve começar a produzir em 2024, com potencial de 40 mil barris por dia; não há data para ainda para Albacora Leste, que produzia cerca de 30 mil barris por dia. Isso significa que a produção da empresa mais que dobraria a partir do próximo ano.

A Prio fez ainda outros dois movimentos importantes: tornou-se a única dona do campo de Itaipu, que deve virar um cluster com Frade, assim como são Polvo e Tubarão-Martelo, e fechou ainda um acordo para se fundir com a Dommo, a companhia cuja origem foi a OGX. Levar a Dommo é quase um movimento simbólico: a empresa tinha 5% do bloco Tubarão-Martelo, os outros 95% já estavam com a Prio. Mas a transação faz da Prio a grande vencedora entre as petroleiras privadas que nasceram nos anos 2000.

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Esse crescimento já contratado da Prio para os próximos anos é um dos argumentos de analistas para recomendar a compra da ação. A convicção no futuro da empresa é tão consolidada que investidores minimizam planos frustrados. 

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Depois de levar Albacora Leste, a Prio havia assinado com a Petrobras um contrato de compra do campo de Albacora. Se fechado, o acordo elevaria a produção da petroleira em mais 43 mil barris por dia, só que as empresas voltaram atrás por falta de consenso sobre o valor real do campo de petróleo. A Petrobras argumentou que havia mais óleo nos campos, e queria um pagamento maior. A Prio disse que não, e que o valor maior colocaria em risco a viabilidade da operação.

Investidores também minimizam a mudança de matriz energética do mundo, que pretende reduzir sua dependência de combustíveis fósseis e altamente poluentes. A ideia por trás do menosprezo a essa virada de chave é a seguinte: petroleiras em geral estão reduzindo seus investimentos de maneira mais acelerada do que a transição energética deve ocorrer. Isso valorizaria os preços do petróleo, elevando o lucro das empresas do setor que seguem com planos de crescimento, como a Prio. 

O cenário para o preço do barril, no entanto, é menos alvissareiro do que foi em 2022. Na média do ano passado, o Brent foi negociado a US$ 101, segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos (EIA). Para 2023, no entanto, a estimativa é de US$ 83. Em 2024, US$ 78. Uma queda substancial, atrelada às estimativas de redução de demanda causada por uma desaceleração da economia global.

Não significa repetir o cenário fúnebre de 2016, longe disso. Ainda assim, trata-se de um ambiente menos favorável para os papéis da companhia. É como se o investidor tivesse chegado a uma encruzilhada. 

Outra questão capaz de deixar qualquer investidor um pouquinho mais conservador com o pé atrás é a multa de R$ 400 mil que a empresa levou da CVM em dezembro de 2022 por ter comprado papéis da Oi em 2016. Nelson Tanure fez a operação para alcançar uma participação de 6% na companhia de telecomunicações, e apitar sobre seu destino. A compra foi feita por um fundo que pertencia à então PetroRio, e isso não foi divulgado à Comissão de Valores Mobiliários na época, levando à multa. 

Bicho estranho

Ações costumam ser divididas em dois tipos: empresas de crescimento e empresas de valor. As companhias em fase de crescimento são aquelas que estão investindo de forma sistemática com a expectativa de colher lucros ainda maiores no futuro. As de valor são negócios consolidados e que distribuem seus resultados na forma de dividendos, em vez de reinvestir no negócio.

Petroleiras em geral são empresas de valor. As gigantes do mercado são multinacionais consolidadas, e que não têm mais tantas frentes de expansão. A Prio ainda está em fase de crescimento, como discutimos acima. Para o investidor, significaria dizer que, ao comprar a ação, ele deve esperar uma grande valorização do papel. Só que esse não é mais o cenário-base dos analistas de ações. Eles recomendam a compra da ação, mas não estimam um potencial de alta tão grande.

A exceção está entre os analistas do BTG, os mais otimistas com a Prio. Eles fixaram o preço-alvo da companhia em R$ 58, o que significaria uma valorização de 41%. Ainda é impressionante para uma empresa que se valorizou como a Prio nos últimos anos, mas indica alguma desaceleração. 

O BTG vê a Prio como “um raro caso de empresa desalavancada, pronta para crescer orgânica e inorganicamente, com um histórico de sucesso e sendo negociada a múltiplos baixos”.

Os números da Prio mostram, de fato, que ela tem uma dívida relativamente baixa. O caixa líquido da empresa é de US$ 255 milhões, o que significa que ela tem já dinheiro para pagar dívidas de curto prazo – sem ter de contrair novas dívidas para isso. Esse conservadorismo tem mais relação com o passado turbulento da empresa nos tempos de HRT. Tradicionalmente, empresas em expansão são mais endividadas, porque captam mais recursos para financiar a operação. 

O múltiplo baixo diria que a ação da empresa é barata. Essa conta é feita pelo P/L, o indicador que divide o preço de todas as ações pelo lucro anual da companhia. O resultado mostra quantos anos o investimento nas ações levaria para se pagar caso todo o lucro fosse distribuído na forma de proventos. O P/L da Prio é de 9,85, em linha com os indicadores de petroleiras como Exxon (9,08) e Chevron (10,18), mas é uma pechincha em relação a uma de suas concorrentes diretas na bolsa, a 3R (42). 

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Ter um múltiplo relativamente baixo significa que a ação está mais barata que a da 3R? Sim. Mas ele também pode sinalizar que o mercado financeiro está mais conservador com a companhia, sem esperar crescimentos magnânimos nos lucros – e aí a ação também se valoriza menos. Fato é que P/Ls na faixa de 10 são os tradicionais para a indústria do petróleo, e isso pode significar que o papel simplesmente chegou a seu preço justo, nem caro nem barato.

O segundo pelotão de indicações de compra de PRIO3 vai nessa linha mais conservadora. O BB UBS estima que a ação subirá a R$ 50, enquanto a Genial fala em R$ 49. Dá por volta de 20% de ganho. O Itaú calcula uma alta para R$ 45, margem estreita de 8% de valorização. Ainda com recomendação de compra estão XP (R$ 41,60) e o Credit Suisse (R$ 42). Se eles estiverem certos, não há mais ganho a ser capturado pelo investidor, já que o papel fechou janeiro nessa faixa de preço.

Um dos ensinamentos mais repetidos por Warren Buffett é o seguinte: compre empresas com resultados sólidos, que vendem algo que o mundo sempre demandará, e pague barato pela ação. Por ora, parece que a Prio se enquadra apenas na primeira parte do mandamento. 

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