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Ferramenta permite funcionário acompanhar as metas dos colegas

Criada pela BetterWorks, startup do Vale do Silício, o sistema vem conquistando empresas que apostam na transparência para aumentar a produtividade. Será que as organizações estão prontas para o Big Brother corporativo?

Por Anna Carolina Oliveira
Atualizado em 2 jan 2020, 14h56 - Publicado em 15 out 2015, 10h00

Em 2011, a Jawbone, empresa norte-americana especializada em equipamentos eletrônicos para vestir, lançou a primeira versão das pulseiras UP. São aqueles acessórios de borracha flexível em cores variadas usados para monitorar a qualidade do sono, o número de passos e até as calorias ingeridas. Rapidamente, ela virou hit entre os executivos. O conceito por trás do gadget é que o que é mensurado pode ser feito, e o que é feito pode ser aprimorado. Norteada pela mesma filosofia, a startup do Vale do Silício BetterWorks desenvolveu um software para compartilhar metas entre os funcionários. Batizado com o mesmo nome da empresa, o instrumento foi lançado em setembro de 2014 e vem ganhando adeptos. Até o momento, 75 organizações de diferentes setores já usam a ferramenta, que pode ser acessada por meio de um aplicativo em várias plataformas, inclusive no celular.  

Apesar de gerar maior exposição (já que todos –da base ao topo – estão submetidos a análise), essa tecnologia se propõe a construir um ambiente de trabalho produtivo por meio de uma cultura transparente e colaborativa. De acordo com análises da startup, a probabilidade de se atingir um objetivo é 40% maior quando feito um registro por escrito, e a concretização de metas tem chance de aumentar em 78% quando uma pessoa compartilha semanalmente o seu progresso com um amigo. Segundo Kris Duggan, CEO e cofundador da BetterWorks, as tradicionais avaliações de desempenho anuais, com revisões de metas semestrais e outras práticas de recursos humanos, já não fazem sentido em um contexto de mercado dinâmico e cada vez mais dominado pela Geração Y. “O ritmo do mundo corporativo e das inovações está cada vez mais acelerado, não dá para esperar até o final do ano para fazer um balanço das competências, desenvolvimento e alcance de metas”, disse Duggan em entrevista à VOCÊ RH. Abaixo, ele explica como funciona a ferramenta e o impacto desse novo conceito na rotina corporativa. 

VOCÊ RH Como surgiu a ideia do software?

KRIS DUGGAN Sabemos que todas as empresas traçam metas. A questão é que, na maioria das vezes, isso é feito anualmente. Além da baixa dinamicidade, o sistema costuma ser fechado e pouco participativo. Foi assim que enxergamos a oportunidade de criar um mecanismo para torná-lo aberto, colaborativo e frequente. Nós acreditamos que essas três características impactam positivamente a produtividade e a satisfação do funcionário, porque ele passa a ter maior clareza sobre o seu valor e propósito na estrutura empresarial, bem como sobre o papel dos outros colegas. 

VOCÊ RH Como ele funciona? 

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KRIS DUGGAN É uma plataforma de nuvem por meio da qual os funcionários, incluindo diretores e o presidente, podem registrar suas metas, compartilhando-as com toda a empresa. Isso pode ser feito trimestralmente ou com qualquer outra periodicidade definida pelo cliente. Com esse sistema, a pessoa consegue atualizar o andamento dos seus objetivos, acompanhar o dos outros e entender melhor os propósitos da companhia nos diferentes momentos do ano. Além disso, ela consegue ver pelo computador, tablet ou celular o organograma, deixar comentário nas metas dos outros e associar os seus objetivos com os de colegas. 

VOCÊ RH E essa ferramenta funciona para todos os modelos de negócio? 

KRIS DUGGAN O nosso produto não é só para companhias jovens ou de tecnologia, temos clientes tradicionais também. Eu conversei com uma organização que tinha de processar e acompanhar as metas de 80 000 funcionários. No começo do ano, ela traça um plano para cada um, todos recebem um documento com metas, e, provavelmente dois meses depois, isso tudo está desatualizado. Com esse volume de pessoas, é difícil acompanhar de fato o andamento das coisas e, sem acompanhamento, cada um acaba fazendo o que acha melhor. O resultado é que, no final do ano, você tem um descompasso enorme entre as metas estabelecidas e o que o funcionário fez. 

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VOCÊ RH Ao compartilhar as metas de todos, você não acirra a competitividade entre os empregados?

KRIS DUGGAN Acho que a competitividade de uma empresa está mais relacionada à sua cultura do que à ferramenta. É possível que os colaboradores se tornem mais competitivos, mas talvez isso ocorra de maneira amigável. Nós tomamos cuidado para orientar os clientes a não usar o produto como um ranking, em que os que atingem mais metas em menor tempo são melhores que os outros. A ideia não é promover a competição, mas o conhecimento e o aprendizado. Fazer com que as pessoas se exponham gera mais trocas e inovação. 

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VOCÊ RH Qual é o limite entre o compartilhamento saudável de metas e o rígido controle da produtividade? 

KRIS DUGGAN Ao contrário do que pode parecer, nós não queremos monitorar o empregado. O trabalhador é, na verdade, integrado ao processo. Você pode dizer que eles estão sendo obrigados a divulgar as metas, mas acho que essa prática ajuda a entender quais são as expectativas relacionadas ao seu cargo e às suas atividades. Lembrando que o compartilhamento da atualização do progresso é opcional. Outra coisa que me parece muito satisfatória para os funcionários é que eles estão submetidos ao mesmo sistema de metas que os gestores, o que torna o processo democrático. Você pode saber qual é a expectativa da empresa em relação a todos os cargos e funções, inclusive em relação ao seu chefe.

VOCÊ RH As empresas estão prontas para ser mais transparentes?

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KRIS DUGGAN Algumas informações não devem ser divulgadas, como determinados assuntos financeiros. Mas, de maneira geral, as pessoas deveriam ter a compreensão do que é importante dentro da empresa e quem está trabalhando no quê. É do interesse do empregador criar processos claros, e restringir o acesso à informação me parece uma maneira retrógrada de pensar. Se a empresa não se comunica, as pessoas vão falar mesmo assim nos corredores.

VOCÊ RH Como esse software impacta o trabalho dos gestores de recursos humanos? 

KRIS DUGGAN Muitos RHs hoje são operadores de processos, mas, com ferramentas que ajudam a otimizar o trabalho, eles ganham a oportunidade de se tornarem estratégicos e ajudar a conduzir o negócio. Ganham o status de um verdadeiro business partner. Falta, no entanto, uma compreensão maior sobre a tecnologia. Vejo muitos RHs que inicialmente rejeitam os instrumentos mais modernos, em vez de enxergar o potencial que eles têm de facilitar o trabalho e reposicionar o profissional de forma estratégica. 

VOCÊ RH É possível que, no futuro, esse software substitua ferramentas mais tradicionais como a avaliação de desempenho? 

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KRIS DUGGAN Nós estamos começando a ver esse movimento em alguns clientes. A avaliação de desempenho anual, por exemplo, está dando lugar a um processo contínuo no formato de coach, em que o profissional tem seu desempenho acompanhado ao longo do ano, recebendo feedback e se desenvolvendo. 

Entenda como a ferramenta funciona assistindo ao vídeo da BetterWorks. Clique aqui!

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