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Livro traz ferramentas mentais que Warren Buffett usa para tomar decisões

Em seu novo livro, Rolf Dobelli explica como empresários de sucesso como Warren Buffett e Charlie Munger tomam decisões

Por Redação Você RH
Atualizado em 2 jan 2020, 14h52 - Publicado em 9 nov 2019, 06h00
WARRENT BUFFETT: No início do ano, o executivo admitiu que pagou “caro” pela fusão entre as gigantes de alimentos processados Kraft e Heinz / Kevin Lamarque/ Reuters (Reuters/VOCÊ RH)
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Nas últimas décadas, houve uma revolução silenciosa em várias áreas do pensamento. Da ciência à política, da economia à medicina, tudo se tornou tão complexo que não há mais ideias prontas. Ou seja, para compreender o novo mundo, é fundamental ter a capacidade de refletir.

Depois de escrever o best-seller A Arte de Pensar Claramente (Objetiva, 49,90 reais), o autor suíço Rolf Dobelli volta ao tema em Como Pensar e Viver Melhor. No livro, que acaba de ser lançado no Brasil, ele traz 52 ferramentas mentais e pensar de maneira estruturada e solucionar desafios da vida moderna.

“As ferramentas mentais são mais importantes do que conhecimento factual. São mais importantes do que dinheiro, relacionamentos e inteligência”, defende ele no prefácio.

Formado em ciências empresariais pela Universidade de St. Gallen e Ph.D. em filosofia da economia pela mesma instituição, Rolf se baseia em pesquisas científicas e na doutrina de grandes pensadores para nortear os leitores a tomar decisões melhores, seja na vida, seja no trabalho.

Leia, a seguir, um trecho inédito da obra.


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TRECHO DO LIVRO: 

Capítulo 6

Não faça nada de errado para que a coisa certa possa acontecer

“Existem pilotos velhos e pilotos corajosos. Mas não existem pilotos velhos corajosos.” Como piloto amador, volta e meia eu me lembro dessa máxima. A ideia de um dia fazer parte da categoria de pilotos velhos me agrada —bem mais do que a alternativa.

Quando entro na cabine do meu velho avião monomotor (ano de fabricação 1975), não planejo nenhum voo espetacular. Apenas tento não cair. As causas de quedas são bem conhecidas: voar com tempo ruim, voar sem ter feito o checklist, voar cansado, voar sem reserva de combustível.

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Investir no mercado de ações não é tanto uma questão de sobrevivência, mas envolve muito dinheiro. Investidores falam bastante em upside e downside — ou seja, o potencial de valorização ou de desvalorização. Upside engloba todos os possíveis resultados positivos de um investimento, como lucros acima da média, e downside, todos os resultados negativos imagináveis (como a bancarrota).

Esses conceitos podem ser aplicados à aviação. Antes e durante o voo, coloco um excesso de atenção no downside. Tento evitá-lo de todas as maneiras. Em contrapartida, mal me preocupo com o upside.

Se a neve se estende, majestosa, pelos Alpes, se houver lindas nuvens a admirar, se o meu sanduíche estará delicioso nas alturas, todas essas maravilhas eu vou experimentar no momento oportuno. Enquanto o downside estiver desligado, o upside acontecerá de forma automática.

O investidor Charles Ellis recomenda o mesmo princípio a todos os tenistas amadores. Ao contrário dos jogadores profissionais, que conseguem colocar quase todas as bolas onde e como desejam, os amadores vivem errando: jogam a bola na rede, erram na altura, na distância, nos quadrantes.

Um jogo profissional é bem diferente de um jogo amador. Os profissionais ganham pontos, os amadores perdem pontos. Se você jogar com um amador, concentre-se simplesmente em não errar. Adote um estilo conservador e mantenha a bola em jogo o máximo de tempo possível.

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Sem jogar intencionalmente de modo conservador, seu adversário cometerá muito mais erros do que você. No tênis amador, as partidas não são ganhas, e sim perdidas.

Concentrar-se no downside em vez de no upside é uma valiosa ferramenta mental. Os gregos, os romanos e os pensadores medievais tinham um nome para essa prática: teologia negativa — o caminho negativo, o caminho da renúncia, do abrir mão, da redução.

Em outras palavras, não se pode dizer o que é Deus, pode-se dizer apenas o que Deus não é. Aplicando esse princípio a nosso tema: não é possível dizer o que garante uma boa vida. É possível dizer apenas o que não garante uma boa vida — e dá para fazer isso com certeza.

De fato, há 2 500 anos, filósofos, teólogos, médicos, sociólogos, economistas, psicólogos, neurologistas e publicitários tentam descobrir o que torna o ser humano feliz.

Os resultados são parcos. Costuma-se dizer que contatos sociais são importantes, que o amor pela vida ajuda, que sexo não atrapalha. Bem, tudo isso já sabemos, não é? Os resultados não poderiam ser mais imprecisos. No que se refere aos fatores de felicidade concretos (o tal do upside), continuamos no escuro.

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Mas, quando nos perguntamos o que poderia ameaçar a felicidade ou pôr em risco uma boa vida, sabemos bem quais são os fatores: alcoolismo, drogas, estresse crônico, barulho, tempo que se perde para chegar ao trabalho, um emprego odiado, desemprego, um casamento falido, expectativas muito elevadas, pobreza, dívidas e dependência financeira, solidão, convivência com pessoas que só se lamentam, dependência de julgamentos externos, comparação com os outros, vitimismo, falta de amor-próprio, insônia crônica, depressão, nervosismo, ira e inveja.

Para isso, nem precisamos de ciência. Você pode observar esses fatores em si mesmo, entre amigos, na vizinhança. O downside costuma ser mais concreto do que o upside. O downside é como granito — duro, palpável, concreto. Já o upside é como o ar.

Por isso, procure eliminar sistematicamente o downside em sua vida para ter uma chance real de obter uma boa vida. É claro que o destino sempre pode se intrometer. Um meteorito destrói a sua casa, uma guerra irrompe, seu filho adoece, sua firma vai à falência. Mas o destino é uma categoria que você, por definição, não pode influenciar. Portanto, nem pense nisso.

Na lista acima você sentirá falta de algumas categorias: doença, complicações físicas, divórcio. Diversos estudos demonstraram que o efeito desses golpes se dissipa mais rápido do que imaginamos.

Durante os primeiros meses depois de um acidente, pessoas que ficaram paraplégicas se concentram apenas em suas mazelas. É compreensível que se sintam infelizes. Mas em poucos meses seu ânimo se normaliza e as questões normais do cotidiano voltam para primeiro plano e a mazela perde importância.

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O mesmo acontece em casos de divórcio. Depois de alguns anos, o vale de lágrimas fica para trás. Já com alcoolismo, drogas, estresse crônico, ruído, longos trajetos até o trabalho etc. — ou seja, todos os itens da primeira lista — o ser humano não se acostuma. Não dá para simplesmente riscar esses fatores. Eles estão sempre presentes e impossibilitam uma boa vida.

Investidores que se tornaram bem-sucedidos no longo prazo, como Warren Buffett e Charlie Munger, trabalham com posturas, truques e ferramentas mentais que podem muito bem ser aplicados à vida cotidiana. Em primeiríssimo lugar: evitar o downside. Em seus investimentos, Buffett e Munger focam sobretudo no que deve ser evitado — ou seja, no que não fazem —, antes de se concentrar no upside. Buf­fett declara: “Não aprendemos a resolver problemas difíceis na vida empresarial. Aprendemos a evitá-los”. Não é preciso ser um gênio para fazer isso.

O sócio de Buffett, Charlie Munger, completa: “É surpreendente o êxito que pessoas como nós atingem ao apenas tentar não ser idiotas, em vez de tentar ser brilhantes”.

Conclusão: uma grande parte da boa vida consiste em evitar bobagens, tolices e modismos, em vez de almejar a felicidade total. O que enriquece a vida não é o que você acrescenta, e sim o que deixa de fazer. Como diz Charlie Munger, que no quesito humor é brilhante: “Quero saber onde vou morrer para jamais visitar o local”.

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