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Advogado tiktoker denuncia Hurb por não entregar viagens – e é censurado

A Hurb, que pratica preços muito abaixo da média do mercado, adiou ou cancelou milhares de pacotes marcados para 2022. E agora está numa briga judicial com o criminalista João Raposo – que, após alertar consumidores nas redes sociais, foi atacado por bots e obrigado a tirar o conteúdo do ar.

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 14 out 2022, 12h27 - Publicado em 14 out 2022, 06h22
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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A Hurb, que até 2018 se chamava Hotel Urbano, vende pacotes internacionais a preços muito abaixo da média do mercado e com datas “flexíveis”. Por exemplo: em agosto, um tour de nove diárias por Roma, Paris e Amsterdam, com hospedagem e voo inclusos, saía R$ 2,5 mil por pessoa. A decolagem fica para algum dia entre março e novembro de 2024: o cliente preenche um formulário com três sugestões de datas em baixa temporada e a empresa tenta encontrar poltronas na promoção para esses dias (ou para dias próximos).

Só que não dá para comprar uma passagem aérea com mais de um ano de antecedência – o comum é que as companhias aéreas comecem a oferecê-las mais ou menos oito meses antes. Assim, o que o pacote entrega é uma promessa de passagem. Uma espécie de voucher.

Até agosto de 2023 (o mês mais distante com preços já disponíveis quando pesquisamos para esta reportagem) não há voos para Paris por menos de R$ 4,2 mil. Para Roma, a passagem mais barata sai por R$ 3,9 mil. É quase o dobro do valor do pacote, e os hotéis nem entraram na conta.

A Hurb afirma que usa inteligência artificial e ciência de dados para negociar passagens e hotéis a preços de atacado, extremamente inferiores aos disponíveis a pessoas físicas ou a outras agências de viagem.

Uma consulta rápida ao ReclameAqui revela que a Hurb não entregou milhares de pacotes vendidos ao longo da pandemia para 2022: foram 31,7 mil reclamações nos últimos seis meses; 28,2 mil delas respondidas. Aparentemente, não há passagens promocionais suficientes (nem baratas o suficiente) para cumprir as promessas. A empresa, então, adia o embarque para meses além da janela de tempo original. A opção é pedir um estorno, prometido na fatura em até 60 dias úteis, ou ficar com créditos para escolher outro destino no futuro. A situação é tão grave que o Ministério da Justiça pediu explicações à Hurb em 25 de agosto.

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Em comunicado oficial, a agência de viagens argumenta que, desde que a crise sanitária arrefeceu, o combo inflação global e aumento na demanda doeu no bolso: as passagens subiram 123% em 12 meses, de acordo com o IBGE. Mesmo assim, eles afirmam ter embarcado 650 mil clientes só no primeiro semestre deste ano. Além disso, dizem ter feito todos os estornos dentro do prazo pré-estabelecido.

Só que essa história tem um plot twist. É o caso do advogado criminalista João Raposo, que tem uma vida paralela de influencer no TikTok e no Instagram. Ele soube das queixas dos clientes e passou a comentar seus desdobramentos (ele não ganha dinheiro com os vídeos, tampouco tem qualquer cliente processando a Hurb. É um hobby). 

Foi então que um anônimo começou a publicar ofensas nos comentários dos vídeos de Raposo – “advogado de porta de cadeia” foi a mais light. Ele bloqueou o perfil, apareceu um segundo. Bloqueou o segundo, veio o terceiro. Desta vez, o troll era o vice-presidente sênior da Hurb, Antonio Gomes, usando seu perfil pessoal. No dia seguinte, o advogado foi atacado por uma horda de bots, robôs que postam comentários negativos em massa. 

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Raposo fez prints da difamação e abriu um processo contra a Hurb – incluindo Meta e TikTok no rolo, para que eles liberassem informações de bastidores dos perfis usados na operação. A Justiça decidiu multar Antonio Gomes por cada comentário fosse publicado daquela data em diante, e os dados revelaram que os dois perfis iniciais eram fakes criados por ele. 

Só que a Hurb devolveu na mesma moeda: abriu seu próprio processo por difamação, e conseguiu em primeira instância que uma juíza obrigasse Raposo a tirar todos os vídeos do ar. 

Na ação, a empresa acusou o advogado de falas que na verdade não constam dos vídeos (como, por exemplo, chamar a operação de esquema de pirâmide). O advogado entrou com recurso, um desembargador invalidou a ordem anterior e ele pôde republicar os vídeos em seu perfil. 

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Agora, Raposo enviou um documento ao Ministério Público Federal cobrando que eles investiguem o modelo de negócio da empresa, com o argumento de que os preços são impraticáveis. Questionada pela Você S/A, a Hurb afirmou apenas que não comenta processos judiciais em andamento, e “que prestará todos e quaisquer esclarecimentos solicitados por autoridades e órgãos regulatórios”.

Nota: na versão online, este texto foi alterado para incluir a posição da Hurb sobre os preços das passagens. 

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