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O mercado financeiro está otimista ou pessimista? A resposta pode estar no Spotify

Um novo estudo descobriu que há uma relação entre o comportamento dos investidores e o tipo de música mais ouvida na plataforma de streaming – semanas de alta têm canções felizes; de baixa, deprês.

Por Bruno Carbinatto
16 ago 2021, 10h00
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 (Klaus Vedfelt/Getty Images)
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Quer saber como anda o mercado financeiro? Além dos índices, números e análises de casas de investimentos, você pode tentar olhar para outra métrica: as músicas mais ouvidas no Spotify.

É que o consumo musical de um país em um determinado espaço de tempo reflete o desempenho do mercado financeiro naquele mesmo período – quando as músicas mais ouvidas são felizes, o mood geral é positivo e a bolsa sobe; quando a população está preferido as músicas tristes, as coisas não andam muito bem e as ações despencam.

Parece meio loucura, mas foi o que descobriu um novo estudo publicado no periódico Journal of Financial Economics e feito por uma colaboração internacional de cientistas, sob a liderança de Alex Edmans, da London Business School.

A pesquisa, explicou Edmans em um comunicado, parte da ideia de que as emoções influenciam as decisões humanas –  o que pode ter consequência no mercado de ações, que, afinal, não é um ente abstrato, mas um conjunto de negociações humanas. Só que estudar o fenômeno não é fácil porque emoções não são observáveis em grande escala e não geram dados.

O jeito, então, é contornar o problema procurando bases de dados que reflitam as emoções de um grande grupo de pessoas. E aí que entram as músicas: a equipe analisou dados do Spotify, o maior streaming de música do mundo, para descobrir as 200 faixas mais ouvidas por seus os usuários em dezenas de países. As canções foram classificadas por uma inteligência artificial em dois grupos: “positivas” (aquelas alegres, animadas e dançantes, como essa) e “negativas” (as mais lentas, sombrias e tristes, tipo essa).

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Com esses dados, a equipe calculou uma métrica numérica chamada “Sentimento Musical” para medir o quão feliz a população daquele país estava em um determinado período de tempo. Quanto mais próximo de 1, mais felizes e otimistas as pessoas estavam; um predomínio de músicas tristes e pessimistas levavam esse número para mais perto de 0. E aí eles compararam esse dado com a performance do mercado financeiro nos mesmos períodos de tempo.

Os resultados mostraram uma correlação entre as duas coisas: quando o Sentimento Musical aumentava consideravelmente em uma semana, o desempenho do mercado de ações naquele país também melhorava no mesmo período. E aí, na semana posterior ao aumento, as bolsas daquele país caíam novamente mais ou menos no nível anterior – o que, segundo os autores, indica que o otimismo repentino foi uma reação mais emocional do que racional.

O contrário também foi verdade: semanas em que as músicas mais deprês bombaram também mostraram resultados piores nas bolsas, que depois se corrigiam.

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Uma preocupação da equipe era de estar analisando uma correlação espúria – ou seja, uma coincidência. Então eles repetiram a análise com dados de 40 países (Brasil incluso), e as conclusões ficaram mais ou menos iguais.

Mais: ampliaram a análise para entender o comportamento dos investidores em detalhes. Os resultados mostraram que, quando os hits do momento eram animados, as pessoas investiam mais em fundos de ações, e, quando as músicas tristes dominavam, o dinheiro acabava em títulos públicos, mais seguros. Isso indica que o sentimento positivo medido pelas canções de fato estava afetando o comportamento do mercado, porque os investidores otimistas preferiam arriscar mais.

Vale ressaltar que a ideia aqui não é de causa e efeito, mas de correlação entre resultados. Ou seja: se as notícias são boas em uma semana específica, por exemplo, os investidores podem se animar e tomar mais riscos. E, no mesmo período, a população em geral fica mais feliz e consome músicas positivas. Não é como se trocar a playlist fizesse cair dinheiro do céu.

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Outro temor da equipe era sobre o quanto a própria métrica de “Sentimento Musical” faria sentido – ela se baseava no pressuposto que pessoas ouvindo músicas dançantes e animadas estariam mais felizes e vice-versa. Mas quem garante que isso era verdade? Não poderiam pessoas que estavam se sentindo triste procurarem canções alegres para tentar afastar o sentimento ruim, por exemplo?

A equipe levou isso em consideração e procurou outros dados para comparar o Sentimento Musical e validar sua hipótese inicial. Eles notaram que a métrica era mais positiva em dias ensolarados e longos do que dias nublados e curtos. Mais: as pessoas ouviam mais músicas felizes quando as restrições de movimento contra a pandemia de Covid-19 eram mais fracas, e mudavam para músicas mais tristes quando as quarentenas e lockdowns eram mais severos. Tudo isso indica que os dados musicais de fato refletem o humor de uma população em um determinado período de tempo.

Legal. Mas antes que você abandone as planilhas e comece a investir com base na aba de trending do Spotify, saiba que nem os autores recomendam isso. “Não escrevi esses artigos para ajudar os fundos de investimento a ganhar mais dinheiro. Em vez disso, meu objetivo é mostrar que o mercado de ações é afetado por emoções”, explicou Edmans. “Em última análise, minha pesquisa fornece evidências de que o estado de espírito influencia na escolha de investimento e, portanto, no retorno financeiro.”

 

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