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O que vem depois do burnout? Como retomar o trabalho depois do trauma

Segundo especialistas, a principal mudança pós-exaustão deve ser psicológica: descentralizar o emprego e não usá-lo como métrica de autojulgamento

Por Luana Franzão
23 jul 2024, 10h00
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Depois do burnout, é preciso encontrar novos pontos focais no cotidiano (Alistair Berg/Getty Images)
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termo “burnout” ganhou espaço na discussão pública. Profissionais perceberam que a exaustão provocada pelo trabalho atinge a vida pessoal, autoestima e saúde física dos que são levados além dos próprios limites. Muitos, ao se perceberem passando por uma situação de esgotamento ocupacional, buscaram ajuda. Mas o que vem depois disso? Existem formas de voltar às atividades sem cair no mesmo ciclo de fadiga?

Apesar de ter ganhado fama, o burnout não é um diagnóstico propriamente dito. Ele é um conjunto de sintomas causados devido à dedicação excessiva à vida profissional, que podem levar a condições como a depressão e a ansiedade – esses sim, diagnósticos psiquiátricos.

Entre os principais sintomas, segundo definido por Christina Maslach, psicóloga social americana que pesquisou extensamente o esgotamento ocupacional, estão a exaustão física e mental, a “despersonalização” (definida como uma falta de empatia ou desapego às atividades) e uma percepção reduzida das conquistas profissionais.

De acordo com um artigo escrito por pesquisadores da Universidade de Nova Gales do Sul, da Austrália, e publicado na Revista Mundial de Psiquiatria Biológica, nomeado “A biologia do burnout: causas e consequências” (disponível aqui), a condição pode provocar ônus ao organismo humano – que reage mal a situações de estresse contínuo.

Envelhecimento acelerado, aumento nos níveis de colesterol e triglicerídeos, doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade podem estar associados a rotinas de alta pressão diária. Redução da neuroplasticidade e da agilidade cognitiva também estão entre as possíveis consequências.

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Para a psiquiatra Danielle H. Admoni, pesquisadora na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a chave para superar um estado de burnout é a mudança psicológica. Interromper a rotina de trabalho, mudar de emprego ou buscar outras atividades só fará efeito caso a pessoa seja capaz de descentralizar o trabalho em seu cotidiano.

“A pessoa precisa entender por que o trabalho tem um significado tão grande em sua vida”, disse a médica. Muitas vezes, quem sofre de burnout associa sua régua de sucesso e autoconfiança ao desempenho profissional. Se as coisas vão mal no trabalho, perdem o senso de si.

“A cura é, sobretudo, mudar a forma de lidar com o trabalho, e não sair dele.”

Danielle Admoni, psiquiatra

A psicóloga Mônica Machado, psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C, afirma que a autocobrança pode ser maior e mais cruel do que a cobrança dos pares e da liderança. Muitas vezes, a exigência que a pessoa coloca em si mesma para crescer e se destacar no serviço é a mais prejudicial.

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“Há momentos em que a pessoa não fica mal por causa das demandas de um chefe, e sim devido à autocobrança, e acaba não dando conta de si mesma”.

O primeiro passo, portanto, é buscar outras atividades e relações que deem sentido ao dia a dia, além do emprego, e, sobretudo, desapegar-se da ideia de que a vida só anda bem quando há reconhecimento profissional e validação de outros. A missão pode ser completa buscando fortalecer relações familiares, entre amigos e românticas, procurando hobbies e atividades físicas, por exemplo. A terapia, como sempre, é uma boa pedida.

Antes de retomar as atividades no trabalho, é preciso se preparar para enfrentamentos desagradáveis. Exemplos: rever alguém que causou estresse, realizar atividades que aborrecem, voltar ao ambiente de trabalho… tudo isso envolve desafios. Mônica destaca que o retorno deve acontecer quando a pessoa se sentir devidamente fortalecida, uma vez que poderá reencontrar situações que a prejudicaram no passado.

Voltando de licença médica

Caso o afastamento do trabalho tenha sido necessário, e o profissional tenha tirado uma licença para cuidar da saúde mental, o retorno pode ser ainda mais brusco. Tanto Danielle quanto Mônica recomendam qu00e o motivo da saída temporária não seja revelado aos colegas, e somente os profissionais do RH estejam cientes da condição.

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Essa é uma forma de se proteger de estereótipos acerca do burnout. Há quem pense que os que passam por esse trauma são “fracos” ou “não dão conta” do serviço. Em um momento de fragilidade na saúde mental, é difícil explicar o que está acontecendo – portanto, deixe as explicações, se quiser, para um momento mais oportuno.

Esses estereótipos podem acometer a própria pessoa passando pelo esgotamento. Sentir-se isolado, pouco eficiente e incapaz é comum nesse momento. A psicóloga Mônica Machado discorda desse sentimento.

“Burnout não é fraqueza. Pelo contrário, a pessoa se doou além da capacidade dela”

Mônica Machado, psicóloga

A psiquiatra Danielle Admoni incentiva a reflexão sobre os motivos da exaustão. “Às vezes aquela pessoa realmente não está dando conta daquelas demandas de trabalho, e é preciso pensar se não é a hora de sair.”

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Caso sinta que, após se recuperar e retomar as atividades, está deprimido e estressado novamente, talvez seja a hora de considerar que aquele ambiente é tóxico para você, e buscar novas oportunidades. Outro ponto a se considerar é se vale a pena se desgastar por esse emprego. Se essa não é a posição dos seus sonhos, pode haver lugares que acomodem melhor suas necessidades.

“Se estamos adoecendo, há algo errado. Primeiro a gente tem que pensar se vale a pena investir tanto tempo e energia para aprender a lidar com aquele trabalho”, disse Danielle.

A chave, para as especialistas, é uma vida com menos cobrança e mais recompensas além do emprego. Há vida fora do escritório.

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